Saturday, September 24, 2016

Trabalho e razão de ser

Será que sonhar em trabalhar com o que a gente realmente gosta é perda de tempo? 

Desde o momento em que nascemos já existe uma rota que traçaram para nós, que supostamente nos levará até o sucesso. É a ideia de que vamos estudar, prestar o vestibular, fazer faculdade, estagiar, formar, ingressar no mercado de trabalho, fazer pós-graduações, subir na empresa, mestrado, doutorado, e após todo esse procedimento, se restar algum tempo, viver... 

Estamos "presos" nessa rota, que sequer fomos nos que determinamos. Mas como seria viver na contramão disso? É possível? Podemos pensar de forma autônoma e decidir nosso próprio destino?Vamos examinar isso através das seguintes reflexões: 
"O que é que dá sentido a sua vida? Qual é sua visão de mundo? 
Quanto dela decorre de sua família de origem? Quanto decorre do Espirito da época? E quanto é realmente genuíno?" (Absolon Macedo) 

Para se trabalhar com o que realmente gostamos, e da FORMA com que realmente gostamos, é essencial encontrarmos nossos valores pessoais. Digo, não os valores que nos foram ensinados, e que sentimos a obrigação de seguir, mas aqueles valores que nos dão uma historia de vida, que nos dão um propósito existencial. Muitas teoria psicológicas tem falado a respeito disso, da importância do "Sentido de vida". Pois bem, esse "Sentido", vai ser fundamental para encontrarmos o nosso trabalho ideal. 

Ikigai é uma palavra japonesa que significa "razão de ser". É o motivo pelo qual uma pessoa acorda todas as manhãs, o trabalho que ela realiza no mundo. O trabalho em seu sentido natural é prazer: O prazer de criar, de inventar algo, transformar. O Ikigai de cada um, ou seja, seu propósito pessoal de vida, pode ser recuperado através de uma busca profunda. A busca fundamental do desenvolvimento humano, que é responder a pergunta "quem sou eu?" 

A maior parte de nós vive uma vida vazia, como se nosso coração não pulsasse. Mas dentro de nós há uma chama, há um paixão por alguma atividade ou jeito de ser, capaz de transformar o mundo. E amamos tanto esse jeito de ser, porque ele é exatamente quem somos em essência. Uma vez descoberto esse centro da nossa personalidade, encontramos a paz. 
“A vida é um breve momento entre dois grandes mistérios”(C.G.Jung) A vida é muito curta, e não sabemos onde vai dar, por isso, precisamos ascender essa chama. A sua chama esta acesa? 

Você deve estar se perguntando se esse texto é mesmo sobre o trabalho. Toda essa enfase em autoconhecimento, será que irá lhe ajudar de alguma forma a exercer o seu trabalho? 
Tenha em mente que estamos falando numa perspectiva muito ampla de trabalho. Não meramente emprego, mas trabalho entendido como seu agir pessoal no mundo. Mesmo que você tenha um emprego, e mesmo que você não goste dele, mas necessite dele, acredito que conhecer a si mesmo, lhe permitirá ser o mais fiel possível à suas inclinações, Desde a antiguidade grega, a máxima "conhece-te a ti mesmo" era proclamada aos quatro ventos. Platão, por exemplo, trouxe elementos importantes nesse quesito, ao dizer, que existe a aparência, e existe a essência das coisas. E vasculhando a nossa essência, para além do que desejamos aparentar ser, é que iremos encontrar a nossa vocação. Algo capaz de fazer nossos olhos brilharem. Por isso se você tem condições de ir atrás disso, vá. 

Nossa sociedade, com seu sistema, encontra-se ainda na caverna de Platão, submersa no mundo das aparências. O sistema é um círculo vicioso que envolve: Consumismo, pragmatismo, competição, produtivismo, efetividade, medicamentos, aceleração. Nada é feito para durar. Nesse círculo, é que somos explorados pelo emprego: “O trabalho é o único suicídio socialmente referendado” (Absolon) 

Não estou fazendo apologia ao socialismo, que fracassou ao longo da história, e sim, à uma micro-revolução da consciência de cada um. 

Para encontrar a si mesmo é preciso uma certa independência: Não no sentido de alguém que não precisa de relacionamentos e da comunidade, mas sim no sentido de quem busca sua própria verdade, sem tomar como verdadeiro o que lhe é imposto pelos outros simplesmente pelo fato de ter afeto por estes, ou por estes serem uma autoridade. Se livrar de todo e qualquer tipo de alienação.  

Para que essa revolução interior ocorra, é essencial que a pessoa se aproprie do seu tempo. O tempo é dela. Nada expressa isso melhor do que a expressão do inglês "Take your time". Não se apresse, e não deixe que te pressionem. Vá com calma. É como diz o filósofo Sérgio Lessa, a questão para pensarmos o trabalho deveria ser o tempo que temos disponível, e não o tempo de trabalho socialmente necessário. É claro, que isso esta longe de se tornar possível para a maioria que tem que ir a luta para sobreviver, mas quem sabe um dia a sociedade se atente a isso, para que possamos decidir o que queremos fazer de nossas vidas, o que queremos de nosso destino. Para isso é preciso termos tempo para investir nesse busca interna. Nós trabalhamos muito e sem prazer. Em essência, isso não é o que o trabalho poderia ser para nós: Uma grande realização. Trabalho não precisa ser aquilo que você conta os segundos para acabar, que você espera passar, para que chegue a hora do Happy Hour. Trabalho pode ser prazer. Descubra o seu lugar no universo.  

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