Friday, May 15, 2015

Entrega, o ato de buscar a si-mesmo.

A coisa mais importante que o masculino pode aprender com o feminino é a entrega. Também o feminino pode aprender algo importante com o masculino: o controle. Mas já que vivemos num Ocidente Masculino, considero mais importante falar sobre o elemento feminino, para equilibrar a balança. A natureza, a união cósmica, o destino, o sagrado, são coisas que só podem ser vivenciadas se a alma está entregue ao Novo de tal forma que as amarras da tradição e do passado são totalmente desfeitas. 


Durante muito tempo, e ainda hoje, os monges, os Zen-budistas, os taoistas, poetas, artistas, e até mesmo alguns filósofos, tem falado sobre esta entrega. As mentes mais introspectivas e que melhor se conheceram parecem apontar para o que C.G Jung chamou de processo de individuação, ou encontrar a si-mesmo. O que seria isso: encontrar a si-mesmo? Para falar desse encontro, precisamos falar do desencontro que é perder-se a si-mesmo. Nascemos originais, no entanto, a forma como a sociedade está configurada nos torna mais-do-mesmo, ou como diz a música do Pink Floyd “apenas mais um tijolo na parede”. Nossos sonhos tornam-se sonhos do outro, sonhos iguais, sonhos massificados. O Ego emerge, na relação com o outro, e ao tentar evitar desagrados acaba reprimindo grande parte da nossa personalidade original e vivemos sobre a máscara da Persona, representando uma personalidade muito limitada. Se na relação com o outro, vivêssemos a angústia ela duraria pouco, mas queremos nos poupar, queremos evitar, fugir, mentir, e assim evitando encarar os fatos, prolongamos a angústia. Perder-se é portanto consequência da vida em rebanho, da massificação, dos sonhos dos nossos pais, do condicionamento, de seguir a linha. O indivíduo que rejeita essa trajetória pré-estabelecida socialmente para ele é um rebelde! Ele está seguindo o seu destino, em direção ao self (si-mesmo). Para tanto, é preciso a entrega e aceitação. Não estamos falando a respeito de aceitar as injustiças do mundo, estamos falando da entrega interior. Não maquiar as emoções, olhar para elas. Se estiver com raiva, admitir a raiva, olhar para ela. Não matar, mas admitir a raiva. É diferente. Do contrário o indivíduo não irá conhecer-se a si mesmo, e continuará projetando sua sombra no mundo e nas pessoas ao seu redor.



" As coisas que vemos são as mesmas que temos dentro de nós" ( Hermann Hesse)