A coisa mais importante que o masculino pode aprender com o
feminino é a entrega. Também o feminino pode aprender algo importante com o
masculino: o controle. Mas já que vivemos num Ocidente Masculino, considero
mais importante falar sobre o elemento feminino, para equilibrar a balança. A
natureza, a união cósmica, o destino, o sagrado, são coisas que só podem ser
vivenciadas se a alma está entregue ao Novo de tal forma que as amarras da
tradição e do passado são totalmente desfeitas.
Durante muito tempo, e ainda hoje, os
monges, os Zen-budistas, os taoistas, poetas, artistas, e até mesmo alguns
filósofos, tem falado sobre esta entrega. As mentes mais introspectivas e que melhor se
conheceram parecem apontar para o que C.G Jung chamou de processo de
individuação, ou encontrar a si-mesmo. O que seria isso: encontrar a
si-mesmo? Para falar desse encontro, precisamos falar do desencontro que é
perder-se a si-mesmo. Nascemos originais, no entanto, a forma como a sociedade
está configurada nos torna mais-do-mesmo, ou como diz a música do Pink Floyd “apenas
mais um tijolo na parede”. Nossos sonhos tornam-se sonhos do outro, sonhos
iguais, sonhos massificados. O Ego
emerge, na relação com o outro, e ao tentar evitar desagrados acaba reprimindo
grande parte da nossa personalidade original e vivemos sobre a máscara da Persona, representando uma personalidade muito limitada. Se na relação com o outro, vivêssemos
a angústia ela duraria pouco, mas queremos nos poupar, queremos evitar, fugir,
mentir, e assim evitando encarar os fatos, prolongamos a angústia. Perder-se é
portanto consequência da vida em rebanho, da massificação, dos sonhos dos
nossos pais, do condicionamento, de seguir a linha. O indivíduo que rejeita
essa trajetória pré-estabelecida socialmente para ele é um rebelde! Ele está
seguindo o seu destino, em direção ao self
(si-mesmo). Para tanto, é preciso a entrega e aceitação. Não estamos falando a
respeito de aceitar as injustiças do mundo, estamos falando da entrega
interior. Não maquiar as emoções, olhar para elas. Se estiver com raiva,
admitir a raiva, olhar para ela. Não matar, mas admitir a raiva. É diferente.
Do contrário o indivíduo não irá conhecer-se a si mesmo, e continuará
projetando sua sombra no mundo e nas
pessoas ao seu redor.
" As coisas que vemos são as mesmas que temos dentro de nós" ( Hermann Hesse)