Parece simples diferenciar as palavras informação, conhecimento e sabedoria, entre si. Informação é dar ou receber uma notícia, acreditando piamente no que se ouve, fundando-se apenas em boatos. É um parecer entregue de maneira infundada. Conhecimento, ao contrário, é a competência em relação a um fato ou assunto. É ter experiência para dar uma informação ou notícia, ou mesmo para instruir. Sabedoria resume-se na combinação de conhecimento fundamentado com a quantidade certa de informações.
No entanto as definições acima descritas são dicionarianas e aquém da realidade entre elas. Tentei criar uma história alegórica para compreendermos sobre a diferença. Imaginem um dia nublado, com nuvens carregadas e um vento bem refrescante. Você está saindo do trabalho para almoçar, quando percebe o tempo fechado e o vento. Mas existem tantos prédios ao redor, a cidade é grande e isso dificulta saber se aquilo são nuvens de chuva ou poluição mesmo. Você pega nas mãos da loira de olhos azuis e corpo deslumbrante que você costumeiramente chama de esposa e enquanto caminha, sente um pingo, depois outro e depois de alguns segundos, mais um. Você acaba de receber alguns dados, mas sem nenhuma certeza se é ou não chuva; pode ser, por exemplo, pingos de um ar condicionado. No momento em que você olha para o céu e repara que aquelas nuvens não são provenientes da poluição, e começa então a perceber relâmpagos e sentir mais pingos, você recebe muitos dados que complementam uma informação: vai chover. O conhecimento é quando você percebe que com chuva você vai se molhar e consequentemente pode chegar ao trabalho e levar um esporro do chefe por conta disso ou, no mínimo, uma gripe como resultado provável. Isso é um conhecimento. Então você precisa tomar a decisão: corro desesperadamente no meio da chuva ou espero pacientemente a chuva minguar sob uma marquise. Sabedoria é levar tudo isso em consideração, sair na chuva, divertir-se com sua amada enquanto encharca-se com a fria chuva e depois chegar em casa e fazer amor com ela enquanto se banham por que é sábado e você não trabalha hoje. Ou seja, sabedoria é tomar a decisão certa, de maneira que haja uma harmonia entre informação e conhecimento. Na verdade, sabedoria é algo muito mais profundo.
Com todas as informações até agora, temos um pequeno conhecimento da diferença entre os termos - informação, conhecimento e sabedoria - e da importância no nosso dia a dia. Vamos partir, então, para uma visão mais profunda do assunto. Como já abordado anteriormente, estamos em uma era onde somos bombardeados absurdamente por informações: é a era da conectividade, das redes sociais, das notícias em tempo real. Se um homem adulto por sua natureza não tem capacidade para receber e filtrar as informações de maneira adequada, imagina então uma criança ou um adolescente, ou mesmo um jovem que recebe ainda mais informações devido aos seus estudos. Obviamente, o corpo humano tem um mecanismo que permite que certos assuntos sejam assimilados muito mais facilmente por crianças e adolescentes do que por adultos, como por exemplo, as figuras de linguagem, comumente ensinadas a partir do sexto ano do ensino fundamental e da mesma maneira, isso ocorre com adultos em diferentes áreas. Ainda tem dúvidas se é fato esse excesso de informação?
Eis alguns exemplos:
- Mais de 1.000 novos títulos de livros são editados por dia em todo o mundo;
- Uma só edição do jornal americano The New York Times contém mais informações do que uma pessoa comum recebia
durante toda a sua vida há 200 anos.
- Atualmente existem mais de quatro bilhões de páginas disponíveis na Internet;
- Estão em circulação mais de 100 mil revistas científicas no planeta;
- Mais de 3 bilhões de pessoas usando a internet no mundo;
- Quase 1 bilhão de websites;
- O facebook tem quase 1.5 bilhões de usuários, e o twitter, mais de 329 milhões de usuários.
(Esse site é impressionante, e nos mostra os números em tempo real: http://www.internetlivestats.com/).
Mas o cerne da questão é o que acontece com todo esse excesso de informação: segundo o psicólogo David Lewis, "o excesso de informação paralisa a capacidade analítica e aumenta dúvidas e ansiedades; ainda, descreve que a sobrecarga de informações pode gerar estresse, tensão, distúrbios de sono, problemas digestivos, dificuldade de memorização e irritabilidade. Quando se analisa então a passividade do homem diante da tecnologia atual, como por exemplo a internet, verifica-se que a mesma torna as pessoas ansiosas, estressadas, superficiais e com uma visão analítica pobre em relação aos impactos agregados ao seu uso." E na era da informação, assiste-se a um novo tipo de ansiedade também, a ansiedade pela informação.
(O texto completo encontra-se aqui - http://www.ufrgs.br/psicoeduc/ed23/2012/06/16/sindrome-do-excesso-de-informacao/).
Se conseguimos ter o equilíbrio mesmo frente ao grande número de informações que recebemos, como então transformar tudo isso em um bom conhecimento?
Precismos filtrar, ou seja, refletir sobre o que lemos, ouvimos e até assistirmos. Se conseguirmos tornar então, essa informação útil e aplicá-las a realidade, então poderemos adquirir essa informação para posteriormente transformá-la em conhecimento. Caso contrário, nem vale a pena adquirir essa informação. A busca, seleção e leitura de informações deve ser precedida pelo estabelecimento de objetivos bem definidos.
Elaborei algumas perguntas que certamente os auxiliarão nesse objetivo:
- Por que eu estou lendo este texto?
- Para que servirão estas informações?
- Qual o significado dessas informações no meu contexto de vida ou profissional?
- Como e com o que posso associar estas informações de forma a compreendê-las com mais profundidade?
- Como posso dar aplicabilidade prática a estas informações?
No mínimo, as respostas a essas perguntas nos ajudariam a organizar nosso tempo e nosso processo de aprendizagem. Mas
também poderá ajudar a dar a noção de sentido e prioridade ao que fazemos, de forma que, certamente, passaremos a rever
a quantidade e a qualidade das informações que processamos.
A leitura de qualquer tipo de informação deve ser sucedida por um período de reflexão quanto ao significado do material lido.
O processo de reflexão exige análise, associação, contextualização e síntese, de forma que ele pode proporcionar não só a
criação de conhecimento original, como também auxilia o processo de fixação mnemônica do conteúdo.
Sem isso, teremos a sensação de estarmos “absorvendo” muito, mas na verdade, estaremos aprendendo pouco.
Agora que estamos munidos de informações suficientes sobre o tema, e conseguimos transformar tudo isso em algum conhecimento útil, vamos a última parte da dissertação: como transformar o conhecimento em sabedoria? Sabedoria é intimamente ligada ao conhecimento? Como obter sabedoria?
Respostas no próximo - e útimo - texto da série.
Senão ficaremos com um excesso de informação.
Hahaha.
André Reis
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André Reis é aficionado por cinema, baterista por terapia, ama rock and roll por que é inteligente, ainda não é casado por que é meio lerdo mesmo, tem tesão por literatura, adora comer, faz academia de vez em quando e gosta de caminhadas. Ama a natureza, quer ser aventureiro mas não tem muito tempo de sobra, tem poucos amigos, e trabalha por que é pobre. Sonha em ser cineasta, diretor de arte e fotografia e casar-se com a Emma Watson. Na vida real tem mais dúvidas do que certeza, mas tem uma Certeza que é maior do que qualquer dúvida.