Saturday, September 26, 2015

Carta de Christopher MaCandless pra Ron Franz

“Gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar.
Tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito do homem que um futuro seguro.
A coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. A alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências […]
Você está errado se acha que a alegria emana somente ou principalmente das relações humanas. Deus a distribuiu em toda a nossa volta. Está em tudo ou em qualquer coisa que possamos experimentar. Só temos de ter a coragem de dar as costas para nosso estilo de vida habitual e nos comprometer com um modo de vida não-convencional.
O que quero dizer é que você não precisa de mim ou de qualquer outra pessoa para pôr esse novo tipo de luz em sua vida. Ele está simplesmente esperando que você o pegue e tudo que tem a fazer é estender os braços. A única pessoa com quem você está lutando é com você mesmo […]
Espero que na próxima vez que eu o encontrar você seja um homem novo, com uma grande quantidade de novas experiências na bagagem. Não hesite nem se permita dar desculpas. Simplesmente saia e faça. Você ficará muito, muito contente por ter feito.”



Wednesday, September 16, 2015

Informação, Conhecimento e Sabedoria (2)

Parece simples diferenciar as palavras informação, conhecimento e sabedoria, entre si. Informação é dar ou receber uma notícia, acreditando piamente no que se ouve, fundando-se apenas em boatos. É um parecer entregue de maneira infundada. Conhecimento, ao contrário, é a competência em relação a um fato ou assunto. É ter experiência para dar uma informação ou notícia, ou mesmo para instruir. Sabedoria resume-se na combinação de conhecimento fundamentado com a quantidade certa de informações.

No entanto as definições acima descritas são dicionarianas e aquém da realidade entre elas. Tentei criar uma história alegórica para compreendermos sobre a diferença. Imaginem um dia nublado, com nuvens carregadas e um vento bem refrescante. Você está saindo do trabalho para almoçar, quando percebe o tempo fechado e o vento. Mas existem tantos prédios ao redor, a cidade é grande e isso dificulta saber se aquilo são nuvens de chuva ou poluição mesmo. Você pega nas mãos da loira de olhos azuis e corpo deslumbrante que você costumeiramente chama de esposa e enquanto caminha, sente um pingo, depois outro e depois de alguns segundos, mais um. Você acaba de receber alguns dados, mas sem nenhuma certeza se é ou não chuva; pode ser, por exemplo, pingos de um ar condicionado. No momento em que você olha para o céu e repara que aquelas nuvens não são provenientes da poluição, e começa então a perceber relâmpagos e sentir mais pingos, você recebe muitos dados que complementam uma informação: vai chover. O conhecimento é quando você percebe que com chuva você vai se molhar e consequentemente pode chegar ao trabalho e levar um esporro do chefe por conta disso ou, no mínimo, uma gripe como resultado provável. Isso é um conhecimento. Então você precisa tomar a decisão: corro desesperadamente no meio da chuva ou espero pacientemente a chuva minguar sob uma marquise. Sabedoria é levar tudo isso em consideração, sair na chuva, divertir-se com sua amada enquanto encharca-se com a fria chuva e depois chegar em casa e fazer amor com ela enquanto se banham por que é sábado e você não trabalha hoje. Ou seja, sabedoria é tomar a decisão certa, de maneira que haja uma harmonia entre informação e conhecimento. Na verdade, sabedoria é algo muito mais profundo.

Com todas as informações até agora, temos um pequeno conhecimento da diferença entre os termos - informação, conhecimento e sabedoria - e da importância no nosso dia a dia. Vamos partir, então, para uma visão mais profunda do assunto. Como já abordado anteriormente, estamos em uma era onde somos bombardeados absurdamente por informações: é a era da conectividade, das redes sociais, das notícias em tempo real.  Se um homem adulto por sua natureza não tem capacidade para receber e filtrar as informações de maneira adequada, imagina então uma criança ou um adolescente, ou mesmo um jovem que recebe ainda mais informações devido aos seus estudos. Obviamente, o corpo humano tem um mecanismo que permite que certos assuntos sejam assimilados muito mais facilmente por crianças e adolescentes do que por adultos, como por exemplo, as figuras de linguagem, comumente ensinadas a partir do sexto ano do ensino fundamental e da mesma maneira, isso ocorre com adultos em diferentes áreas. Ainda tem dúvidas se é fato esse excesso de informação?
Eis alguns exemplos:

- Mais de 1.000 novos títulos de livros são editados por dia em todo o mundo; 
- Uma só edição do jornal americano The New York Times contém mais informações do que uma pessoa comum recebia durante toda a sua vida há 200 anos.
- Atualmente existem mais de quatro bilhões de páginas disponíveis na Internet; 
- Estão em circulação mais de 100 mil revistas científicas no planeta;
- Mais de 3 bilhões de pessoas usando a internet no mundo;
- Quase 1 bilhão de websites;
- O facebook tem quase 1.5 bilhões de usuários, e o twitter, mais de 329 milhões de usuários.
(Esse site é impressionante, e nos mostra os números em tempo real: http://www.internetlivestats.com/).

Mas o cerne da questão é o que acontece com todo esse excesso de informação: segundo o psicólogo David Lewis, "o excesso de informação paralisa a capacidade analítica e aumenta dúvidas e ansiedades; ainda, descreve que a sobrecarga de informações pode gerar estresse, tensão, distúrbios de sono, problemas digestivos, dificuldade de memorização e irritabilidade. Quando se analisa então a passividade do homem diante da tecnologia atual, como por exemplo a internet, verifica-se que a mesma torna as pessoas ansiosas, estressadas, superficiais e com uma visão analítica pobre em relação aos impactos agregados ao seu uso." E na era da informação, assiste-se a um novo tipo de ansiedade também, a ansiedade pela informação.   
(O texto completo encontra-se aqui - http://www.ufrgs.br/psicoeduc/ed23/2012/06/16/sindrome-do-excesso-de-informacao/). 

Se conseguimos ter o equilíbrio mesmo frente ao grande número de informações que recebemos, como então transformar tudo isso em um bom conhecimento? 
Precismos filtrar, ou seja, refletir sobre o que lemos, ouvimos e até assistirmos. Se conseguirmos tornar então, essa informação útil e aplicá-las a realidade, então poderemos adquirir essa informação para posteriormente transformá-la em conhecimento. Caso contrário, nem vale a pena adquirir essa informação. A busca, seleção e leitura de informações deve ser precedida pelo estabelecimento de objetivos bem definidos. 
Elaborei algumas perguntas que certamente os auxiliarão nesse objetivo: 
- Por que eu estou lendo este texto? 
- Para que servirão estas informações?
- Qual o significado dessas informações no meu contexto de vida ou profissional? 
- Como e com o que posso associar estas informações de forma a compreendê-las com mais profundidade? 
- Como posso dar aplicabilidade prática a estas informações?

No mínimo, as respostas a essas perguntas nos ajudariam a organizar nosso tempo e nosso processo de aprendizagem. Mas também poderá ajudar a dar a noção de sentido e prioridade ao que fazemos, de forma que, certamente, passaremos a rever a quantidade e a qualidade das informações que processamos. A leitura de qualquer tipo de informação deve ser sucedida por um período de reflexão quanto ao significado do material lido. O processo de reflexão exige análise, associação, contextualização e síntese, de forma que ele pode proporcionar não só a criação de conhecimento original, como também auxilia o processo de fixação mnemônica do conteúdo. Sem isso, teremos a sensação de estarmos “absorvendo” muito, mas na verdade, estaremos aprendendo pouco. 

Agora que estamos munidos de informações suficientes sobre o tema, e conseguimos transformar tudo isso em algum conhecimento útil, vamos a última parte da dissertação: como transformar o conhecimento em sabedoria? Sabedoria é intimamente ligada ao conhecimento? Como obter sabedoria?

Respostas no próximo - e útimo - texto da série.
Senão ficaremos com um excesso de informação.
Hahaha. 

André Reis

--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

André Reis é aficionado por cinema, baterista por terapia, ama rock and roll por que é inteligente, ainda não é casado por que é meio lerdo mesmo, tem tesão por literatura, adora comer, faz academia de vez em quando e gosta de caminhadas. Ama a natureza, quer ser aventureiro mas não tem muito tempo de sobra, tem poucos amigos, e trabalha por que é pobre. Sonha em ser cineasta, diretor de arte e fotografia e casar-se com a Emma Watson. Na vida real tem mais dúvidas do que certeza, mas tem uma Certeza que é maior do que qualquer dúvida. 



Thursday, September 10, 2015

Individuação e Individualismo no mundo contemporâneo

O mundo de hoje é mais caótico que antigamente?  

Todos nós já ouvimos falar que o mundo está ficando cada vez mais individualista e caótico, que estamos cada vez mais egoístas, e que em decorrência disso estamos tendo a maior "epidemia" de transtornos mentais jamais vista em outros períodos. As estatísticas da depressão aumentam a cada ano. No Brasil por exemplo, estima-se que 10% da população sofra de depressão. Vamos analisar cautelosamente essas afirmações, e ver se são verdadeiras. Para isto, usarei um conceito particular do que é saúde mental, o conceito de Individuação, que explicarei melhor mais adiante, e foi proposto pelo autor que já venho trabalhando em outros textos, C.G. Jung. Sendo individuação o conceito de saúde que usaremos nesse texto, o conceito de individualismo será usado exatamente na direção contrária da individuação, será tratado como fator adoecedor. E para falar de individualismo, trarei três autores, que em minha opinião conseguiram captar bem o rumo da humanidade na contemporaneidade: Zygmunt Bauman, Jiddu Krishnamurti e Leandro Karnal ( brilhante historiador brasileiro).  

Qual a diferença entre Individuação e individualismo? 

O conceito junguiano de Individuação se diferencia radicalmente do individualismo, uma vez que a individuação é um processo que conduz a pessoa a se tornar singular, e o individualismo conduz a pessoa a se tornar egoísta. Que é ser singular? É se diferenciar da massa, é encontrar seu caminho pessoal, sua essência, independente do que as pessoas esperam de você, independente do que o mercado espera de você, independente do que seus pais esperam/esperavam de você. Individuação é aproximadamente o que Carl Rogers chamaria de tornar-se pessoa. É responder a pergunta básica de J.Lacan: " Che vuoi?" ( O que você quer?) O que você quer de verdade? 
"Nascemos originais e morremos copias" (C.G Jung). Nessa frase marcante, Jung coloca a individuação como uma tarefa que a humanidade não tem conseguido levar a cabo. Continuamos morrendo cópias, todos os dias. Seguimos o programa social que já estava determinado para nós, e esquecemos de olhar o que realmente é importante para nossa alma. 

O individualismo tem contribuído para que continuemos evitando a individuação. O individualismo é precisamente o que tem impedido a individuação, ele é o operador da mesmice, e para explicar isso, é preciso entender como funcionam os relacionamento no mundo de hoje. E quem tem falado sobre isso é o sociólogo Zygmunt Bauman, que vê as relações humanas cada vez mais descartáveis e líquidas. Bauman cita as “Amizades de Facebook”, que podem ser facilmente iniciadas e facilmente encerradas. Para manejar essas amizades, basta escolher conectar, e quando se quiser encerra-las basta escolher desconectar, lidar com essas relações não requer um compromisso duradouro. Na verdade, nem sequer há uma relação afetiva nesses casos, há apenas uma relação de troca momentânea (busca-se sexo, negócios, informação, auto-afirmação). Estamos cada vez mais distantes do outro. E o pior, distantes do outro que está bem ao nosso lado. Para o historiador Leandro Karnal, o individualismo de hoje beira ao autismo. E para demonstrar isso de forma bem humorada ele propõe um "experimento" do dia-a-dia. Ele diz que se qualquer um de nós chegar em casa a noite após o trabalho e disser à alguém: "estou cansado", na maioria dos casos irá ouvir: " Eu também". Ninguém irá perguntar porque você está cansado. Aliás, nossos diálogos tem sido muito assim. Cada um falando de si. Uma mulher chega e diz: " Meu filho está fazendo direito", ao que sua amiga responde: "O meu está fazendo Medicina". A noção de que existe um outro está se perdendo. Isso porque estamos demasiadamente engajados em "nossos projetos de vida". O que dificilmente nos damos conta é que esses projetos de vida não são nossos... são programas que determinaram para nós, e inclusive nos fizeram deseja-lo, como um jovem cujo objetivo único é ter um alto cargo numa empresa, mas prefere não lembrar da insônia que isso pode causar. É nesse sentido que o educador indiano Krishnamurti dizia que a mente humana está abarrotada do Vir-a-ser. Estamos sempre tentando vir a ser algo diferente do que somos, sempre querendo alcançar uma posição maior e mais privilegiada na sociedade. Quando todos desejam as mesmas coisas, podemos suspeitar da singularidade desses desejos. Quando um adolescente sonha em ir pra Disney, é bem provável que esse sonho "foi colocado" lá em sua mente por alguém, provavelmente não é um sonho original. E a prova disso é que quando alcançamos o momento tão sonhado, estamos mais preocupados em tirar fotos para postar no Facebook do que em aproveitar o momento.   

Voltemos a hipótese central desse texto, a de que o individualismo tem bloqueado o processo de individuação e singularização. vamos examinar isto. Vimos dois fatores que apoiam essa hipótese: 
1 - As relações líquidas 
Primeiro fator, o fato de as relações estarem mais líquidas no mundo individualista, é extremamente danoso para a individuação, pois esta depende de relacionamentos profundos. Uma das melhores maneiras de conhecer a si mesmo, é através do espelho da relação com o outro. 

2 - Os programas de vida "prato-feito" aos quais estamos sendo condicionados. 

Esse segundo fator é bastante óbvio. Estamos tão bitolados em cumprir os nossos objetivos na carreira e na vida social, que nos afastamos totalmente da meta da alma, a individuação. Chamo esses programas de vida de prato-feito, porque apesar de termos a impressão de que eles são bastantes pessoais, eles são iguais aos das outras pessoas. 

Conclusão: Como quebrar essa corrente? 

Essa é uma pergunta que cada um responde por si, cada um traz as soluções que lhe são possíveis. Não existe uma fórmula, mas se estamos realmente convencidos das mazelas do individualismo, achar-se-a uma maneira. Ou, se não estamos convencidos disso, podemos continuar com ele. Os textos onde compartilho meus pensamentos com o leitor são apenas hipóteses, esboços, não há nada conclusivo, nem mesmo o parágrafo de conclusão. Contudo, se me permite sugerir um bom lugar para começar a quebrar essa corrente, pode-se começar pela escuta, ouvir o outro. É um bom começo.

Apesar de todas as calamidades demonstradas, em todo esse texto não há evidencia de que o mundo está mais caótico do que antigamente. Criamos problemas para o mundo,  mas também conseguimos resolver alguns dos problemas de antigamente. É hora de colocar os ganhos e perdas na balança para avaliar o mundo que nos cerca. 

Friday, September 4, 2015

Psicologia analítica, Fascinação pelo oriente e Meditação

Desde muito cedo C.G. Jung se interessou pelo tema da religião em toda sua amplitude, e sua obra constitui além de uma importante teoria psicológica (a psicologia analítica), um verdadeiro tratado sobre a religião. E foi exatamente por esse motivo, que desde que eu ouvi falar em Jung pela primeira vez esse autor me interessou bastante. Em especial, devido a audaciosa proposta de Jung de abranger o total da religião, e de identificar os aspectos psicológicos que estão ali presentes. E para esta tarefa, a premissa de um Inconsciente Coletivo caiu como uma luva. Sendo a religião a expressão de uma coletividade, a ideia de Jung é a de que ao analisar uma obra religiosa, ele estaria analisando também a estrutura da mente das pessoas, uma vez que existem registros que se repetem no inconsciente de pessoas diferentes nas mais diversas culturas. Esses registros se repetem porque se assentam em arquétipos, que são, por assim dizer, fôrmas nas quais se estruturam o Inconsciente. Como a ideia de redenção, de herói, de Deus Pai, de Mãe Natureza, de Extraterrestres, etc. 

A partir da ideia de que existem essas fôrmas, os arquétipos, Jung parte para se aprofundar no que seria sua grande fascinação: A Religião oriental. E é exatamente por esta fascinação, que trago aqui uma auto-análise da relevância deste tema para mim enquanto pessoa. Minhas reflexões e conclusões são semelhantes as que Jung chega a partir dessa investigação. Os princípios da não-violência, do deixar fluir, e o buscar respostas dentro de mim mesmo são características da religião oriental que já há alguns anos tem orientado minhas ações. Não só para Jung, como para muitos outros autores, a diferença entre Ocidente e Oriente está em uma diferença de atitude: extroversão x introversão. O Ocidente se orienta pelo mundo exterior, e o Oriente pelo mundo interior. Dito bem resumidamente, é isto. Sendo Jung um psicoterapeuta, e como tal, valorizava o "olhar para dentro", ele sempre reconheceu o valor do Oriente, e até mesmo sua superioridade espiritual em relação ao Ocidente. No entanto, após uma viagem para a Índía, têm-se a impressão de que Jung toma outro rumo em suas ideias, e é exatamente essa reviravolta que tem importância para mim nesse momento. Jung volta da India dizendo que há muita coisa que o Ocidente deve aprender com o Oriente, mas que não deve imita-lo. Ele aconselha o homem ocidental a buscar sua própria via espiritual, dizendo que há uma diferença estrutural entre o homem ocidental e oriental. Estaria Jung abolindo tudo que ele havia dito anteriormente? 

A resposta é não. Ele não estava abolindo, mas aprofundando. A única questão que ele de fato mudara de opinião era a respeito do homem ocidental "comum" se apropriar da religião oriental. Muitas vezes isso se dá de forma neurótica. Sendo a pessoa ocidental voltada para o exterior, o perigo que se tem, é o de ela tentar repetir apenas a exterioridade das práticas orientais. Esse risco é alto, por mais que a pessoa pense que está indo na essência do que é oriental, toda sua cultura e suas raízes estão fincados no ocidente, e isto tem de ser respeitado. O fato é que a globalização aproximou culturas muito diferentes, e agora temos de lidar com isto. Nesse processo de miscigenação, temos alguns resultados bastante interessantes como a Yoga por exemplo, que encontrou expressão significativa na pessoa ocidental. Mas a maioria das práticas orientais ainda não foi circunscrita pela cultura ocidental. Escolher correr o risco de estar se auto-enganando, é uma questão individual, que o ocidental que pretende mergulhar no Oriente abraça. Mas o que Jung nos ensina após essa reviravolta no seu pensamento é que as riquezas que o Oriente encontrou lá no fundo da alma humana, nós ocidentais também podemos encontrar ao nosso modo. Aprendemos com eles, mas não precisamos imita-los. O que é meditação? O que é equilibrar o Yin e o Yang? Precisamos seguir uma tradição oriental para fazermos isso? ou podemos fazê-lo simplesmente ouvindo uma boa música, indo a uma sessão de psicanálise, vendo o pôr-do-sol no mar, ou através de uma caminhada no parque?         

Informação, Conhecimento e Sabedoria (1)

"Onde está a sabedoria que nós perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que nós perdemos na informação?" Thomas Stearns Elliot

O pensamento acima pertence a um escritor extraordinário - já vencedor do premio Nobel de literatura - cuja obra é conhecida pela fusão de formas tradicionais com elementos experimentais em uma inovadora síntese capaz de inebriar os mais diferentes leitores com sua concepção tão multifacetada, por exemplo, com o livro A Terra Devastada (1922), considerado uma das principais obras da literatura moderna; há inumares representações ricas, complexas e ao mesmo tempo, inequívocas; Para T.S. Elliot, a literatura representava uma maneira única de se opor a ausência de sensações.

Vivemos em uma era onde a atualização tornou-se imprescindível e mais do que isso, o acesso a informação tornou-se absolutamente fácil, com uma produção que cresce exponencialmente a cada dia. Nunca na história da humanidade houve tamanho acesso - e produção - de informação. O que acontece hoje é que as pessoas confundem informação com conhecimento.

E confundem conhecimento, com sabedoria.

Por isso, me impressiona o pensamento descrito no título, de um escritor morto a quase 60 anos. Informação não é conhecimento, e conhecimento não é sabedoria. Sabemos que temos acesso a mais informações do que em qualquer momento da história humana. Temos habilidade de encontrar qualquer resposta factual simplesmente ao digitar uma pergunta na internet. A velocidade com que temos acesso as informações é algo que devemos ter em mente enquanto vivemos nossa vida, enquanto gastamos o tempo que nos é dado.

Explico:

Quando a calculadora eletrônica foi inventada, muitos reclamaram que os filhos não aprenderiam matemática e que a próxima geração de físicos estava fadada a não existir. Hoje, as pessoas reclamam que não sem lembram mais de números, endereços, fatos. Existe alguma verdade nisso, obviamente. Se houve alguma perda para a humanidade - o que parece verídico - não argumentarei contra. Mas há benefícios, logicamente, apesar de mudar a visão de quem somos. Há uns 150 anos, quando o telégrafo surgiu, muitos afirmaram que aquela tecnologia aniquilaria o tempo e o espaço e criaria uma comunidade global, assim como a internet agora. Por isso, é importante que saibamos que nossos ancestrais também ficaram atônicos com as tecnologias que surgiram em sua época, mesmo quanto estamos maravilhados com as ultimas tecnologias.

Outro bom exemplo: O projeto Genoma é um esforço científico que tem amealhado conhecimento com maior velocidade do que nossas mentes podem processar. Esse esforço global para mapear e sequenciar todos os genes (entre 20 e 25 mil) do corpo humano pressagiam implicações para o tratamento e a prevenção de doenças. Contudo, com o surgimento de tais informações somos confrontados com questões de bioética que surgem mais rapidamente do que suas respostas.

Não conseguimos filtrar a esmagadora parte dessas informações. E não há problema nisso. A questão aqui é que o excesso de informação pode ser tão ruim quanto a ignorância. Há alguns meses uma pesquisa - conduzida pela conhecida Universidade da Califórnia, em San Diego - revelou que os americanos consomem quase 35 GB de informações por dia. A mesma pesquisa revela que os americanos consomem informações durante ao menos 12 horas por dia. Nota-se com isso, um lado adverso onde as pessoas se tornam dependentes de informação. E enquanto buscamos conhecimento útil, podemos se perder em uma cegante nevasca de dados. Por exemplo, enquanto procuramos informações e conhecimentos através de um buscador - Google por exemplo - podemos nos deparar com pornografia, desinformação e todo tipo de má instruções.

""Salomão era um homem com rico - era um rei - com um harém com as mulheres mais lindas imagináveis, tinha tudo do melhor, tudo que queria estava ao seu alcance. O mesmo rei escreveu o seguinte:

"13 Bem-aventurado o homem que acha sabedoria, e o homem que adquire conhecimento. 14 Porque melhor é a sua mercadoria do que a mercadoria de prata, e a sua renda do que o ouro mais fino.15 Mais preciosa é do que os rubins; e tudo o que podes desejar não se pode comparar a ela."  Provérbios 3:13-15

Em seu livro, através de provérbios e parábolas, Salomão nos conduz além daquele lema tão comum de que "sabedoria é a experiente arte de utilizar o conhecimento para atingir um objetivo desejado."" (*1) A incontrastável complexidade da mente humana, que não pode ser completamente descrita sequer por ela mesma, pode, no entanto ser resumida a apenas três palavras: Informação, conhecimento e sabedoria.

É muto difícil explicar o que é sabedoria, pois algumas respostas e ações podem levar a qualquer um a ser tido como um ser de grande sabedoria, basta percebemos o que Deus ao perguntar a Salomão o que ele gostaria de receber por suas obras, respondeu de imediato o que queria - sabedoria - e se transformou no homem mais rico da história.

No próximo texto, meditaremos um pouco sobre a diferença entre Informação, Conhecimento e Sabedoria.

Até breve,
André


(1) - Mart de Heerman - Pensando Sobre, pág. 75