Wednesday, October 23, 2013

Existe livre escolha?

O Condicionamento Humano II

Para uma melhor compreensão deste texto, o ideal é que o leitor leia o texto “O condicionamento humano” nesse mesmo blog. Segue o link:

O objetivo destes textos é de investigar junto ao leitor a existência de um modo de vida diferente, novo, em que termine tamanho sofrimento e conflito em que toda a humanidade tem estado submersa. Porém atentos para que não mergulhemos em idéias utópicas, ou algum tipo de droga romântica que visa nos isolar da realidade da sociedade. Existe o sofrimento, isso é um fato incontestável.

Hoje, vamos falar a respeito da questão do mérito. Eu, como ser humano, sinto que devo me esforçar para chegar à determinado alvo, e que se eu alcançar este alvo, foi graças ao meu esforço, seja minha carreira, minha esposa/marido, meu carro, minha reputação. Tenho acreditado piamente que tudo o que conquistei, todas às vitórias, ganhos, lucros, foram devido ao meu mérito próprio, meu esforço,  minhas escolhas. Por favor não diga: “mas é claro que me esforcei”. Com certeza sim, mas vamos investigar isso. Veja, se observo ao meu redor me deparo com uma sociedade desigual. Uns tem muitas propriedades e dinheiro, outros vivem abaixo da linha da miséria. Uns nascem em berço de ouro, outros nascem na total falta de recursos para se desenvolver fisicamente e intelectualmente. Alguém pode nascer ou sofrer alguma fatalidade durante a vida que o leve a alguma deficiência, e ter grandes dificuldades devido a falta de infra-estrutura e inserção que a organização social promove. Como ser humano tenho um acúmulo de experiências que decifram minha realidade, que literalmente controlam meus pensamentos, e colocado diante de uma determinada situação o pensamento opera interpretando de forma automática o que me cerca. Onde está o meu mérito então? Acaso nos esquecemos de quantas circunstâncias, pessoas, acontecimentos, experiências, foram necessárias para formar o que considero mais louvável: que sou eu? Será que chegamos a algum lugar por mérito próprio?
O que me leva a optar por “x” ao invés de “y”?
Está é a questão da escolha. Porque escolhemos, decidimos ?  A resposta é muito simples. É devido às minhas experiências que opto por uma escolha em detrimento da outra. Arthur Schopenhauer pronunciou palavras muito bem colocadas sobre a questão da escolha: “ O homem é livre para fazer o que quer, mas não para querer o que quer “. Se fossemos livres para querermos o que quiséssemos não haveria erros, todos nós optaríamos pelas melhores decisões para a humanidade e tudo correria bem. No entanto parece que a nossa vontade está condicionada pela nossa experiência, e como cada um de nós tem experiências superficialmente diferentes temos vontades diferentes. É nesse ponto que se encontra o perigo ao meu ver. Por favor não diga: “ Mas é obvio que temos vontades diferentes, o que há de mal nisso?”. Provavelmente não haja nada de mal nisso, mas existe algo no modo como lidamos com nossas vontades que as tornam deturpadas, egoicas. E é um fato obvio que o movimento egoico não é o melhor para a humanidade. Como cada indivíduo tem vontades diferentes, guerreamos por nossas vontades individuais. Eu acho que X é melhor, você acha que é Y. Eu acho que o meu deus é melhor, você acha que é o seu ou que é a ciência, e assim guerreamos, ou então, guerreamos por competição. Você diz "a vaga é minha" e eu digo "De forma nenhuma! ela é minha."; e simplesmente aceito o fato de só haver uma vaga. Porque não levanto a voz diante dessa situação? Porque não gritar sobre o que está acontecendo em todo o mundo?  

Existem estudos que demonstram que o cérebro comanda determinadas ações antes de o individuo ter consciência delas. O psicólogo Benjamin Libet através de um experimento mostrou que uma região do cérebro envolvida em coordenar a atividade motora apresentava atividade elétrica uma fração de segundos antes dos voluntários tomarem uma decisão, no caso, apertar um botão. Estudos posteriores corroboraram a tese de Libet, de que a atividade cerebral precede e determina uma escolha consciente. Provavelmente, a esta altura, o leitor estar se perguntando: “ Espere, Você está dizendo que escolhemos de forma automática baseado em nossas experiências? Isto não é determinista demais? Se for assim, o que adianta toda essa discussão, assassinos continuarão assassinos e farsantes continuarão farsantes, não é mesmo? ”. Pode o ser humano mudar isso? É isso que nos interessa investigar. Será que a partir do momento que o ser humano se torna consciente da realidade de que ele vêm sendo condicionado, de que ele tem diversos atos ritualísticos por repetição, por recompensa. Pode ele mudar? Isto é, pode ele duvidar de sua própria experiência? Poderemos habitar esta linda terra com vales, cascatas, plantas, montanhas, pássaros, o mar, tecnologia em favor do bem-estar, sem o repetitivo conflito em que vivemos?