Delírios costumam infestar o sistema nervoso;
Como uma praga esses grandiosos seres pequeninos se espalham em rede;
Eles têm fome de pensamento. Não se engane;
Sua aparência é bonita,
É como um sedutor ou sedutora, que te espera com um punhal afiado guardado na gaveta do armário.
É como um veneno que vai esvaindo suas forças, e te corroendo por dentro. E o mais desastroso é que você tem sede desse veneno. Sua corrosão causa um buraco no estômago, que inocentemente queremos preencher com mais veneno.
É como o álcool, que se usado em pequenas doses te dá coragem para enfrentar o medo, mas se usado em grandes doses te tira o juízo. Se usado de vez em quando te deixa alegre, mas se usado sempre te deixa deprimido.
Eles podem nascer em qualquer lugar, são plantas espinhosas que brotam principalmente nos terrenos mais áridos, mas também podem nascer em bosques, florestas ou pradarias.
O homem que tem uma foice não deve hesitar em destruir essas ervas daninhas. Mas dá uma pena, sabe? Ver ele ali, tão bonitinho, tão na dele, cheio de boas intenções.
Mas se tu hesita ele te domina, ele usa você. Ele diz na beira do teu ouvido que tudo é uma grande bobagem, e que todos estão errados. E então ele diz que tu podes ser grande, grande como ele. Se olhares de relance acharás que suas raízes são tão profundas quanto o mundo. Mas se olhares bem, se saíres da hipnose, se veres como vê um transeunte que passa na via e observa sua cena com a planta, notaras que ele é pequeno. O delírio é minúsculo. É uma memória. Que vai ficando cada vez menor, sem importância. E você deixa ele lá no canto dele, tristonho. De castigo, quem sabe um dia... Quem sabe um dia, ele aprende a se comportar.
Wednesday, December 4, 2013
Wednesday, October 23, 2013
Existe livre escolha?
O Condicionamento Humano II
Para uma melhor compreensão deste texto, o ideal é que o leitor leia o texto “O condicionamento humano” nesse mesmo blog. Segue o link:
Para uma melhor compreensão deste texto, o ideal é que o leitor leia o texto “O condicionamento humano” nesse mesmo blog. Segue o link:
O objetivo destes textos é de investigar junto ao leitor a
existência de um modo de vida diferente, novo, em que termine tamanho sofrimento
e conflito em que toda a humanidade tem estado submersa. Porém atentos para que
não mergulhemos em idéias utópicas, ou algum tipo de droga romântica que visa
nos isolar da realidade da sociedade. Existe o sofrimento, isso é um fato incontestável.
Hoje, vamos falar a respeito da
questão do mérito. Eu, como ser humano, sinto que devo me esforçar para chegar
à determinado alvo, e que se eu alcançar este alvo, foi graças ao meu esforço,
seja minha carreira, minha esposa/marido, meu carro, minha reputação. Tenho
acreditado piamente que tudo o que conquistei, todas às vitórias, ganhos,
lucros, foram devido ao meu mérito próprio, meu esforço, minhas escolhas. Por favor não diga: “mas é
claro que me esforcei”. Com certeza sim, mas vamos investigar isso. Veja, se
observo ao meu redor me deparo com uma sociedade desigual. Uns tem muitas
propriedades e dinheiro, outros vivem abaixo da linha da miséria. Uns nascem em
berço de ouro, outros nascem na total falta de recursos para se desenvolver
fisicamente e intelectualmente. Alguém pode nascer ou sofrer alguma fatalidade
durante a vida que o leve a alguma deficiência, e ter grandes dificuldades
devido a falta de infra-estrutura e inserção que a organização social promove.
Como ser humano tenho um acúmulo de experiências que decifram minha realidade,
que literalmente controlam meus pensamentos, e colocado diante de uma
determinada situação o pensamento opera interpretando de forma automática o que
me cerca. Onde está o meu mérito então? Acaso nos esquecemos de quantas
circunstâncias, pessoas, acontecimentos, experiências, foram necessárias para
formar o que considero mais louvável: que sou eu? Será que chegamos a algum
lugar por mérito próprio?
O que me leva a optar por “x” ao
invés de “y”?
Está é a questão da escolha. Porque
escolhemos, decidimos ? A resposta é
muito simples. É devido às minhas experiências que opto por uma escolha em
detrimento da outra. Arthur Schopenhauer pronunciou palavras muito bem
colocadas sobre a questão da escolha: “ O homem é livre para fazer o que quer,
mas não para querer o que quer “. Se fossemos livres para querermos o que
quiséssemos não haveria erros, todos nós optaríamos pelas melhores decisões
para a humanidade e tudo correria bem. No entanto parece que a nossa vontade
está condicionada pela nossa experiência, e como cada um de nós tem
experiências superficialmente diferentes temos vontades diferentes. É nesse
ponto que se encontra o perigo ao meu ver. Por favor não diga: “ Mas é obvio
que temos vontades diferentes, o que há de mal nisso?”. Provavelmente não haja
nada de mal nisso, mas existe algo no modo como lidamos com nossas vontades que
as tornam deturpadas, egoicas. E é um fato obvio que o movimento egoico não é o
melhor para a humanidade. Como cada indivíduo tem vontades diferentes, guerreamos por nossas vontades individuais. Eu acho que X é melhor, você acha que é Y. Eu acho que o meu deus é melhor, você acha que é o seu ou que é a ciência, e assim guerreamos, ou então, guerreamos por competição. Você diz "a vaga é minha" e eu digo "De forma nenhuma! ela é minha."; e simplesmente aceito o fato de só haver uma vaga. Porque não levanto a voz diante dessa situação? Porque não gritar sobre o que está acontecendo em todo o mundo?
Existem estudos que demonstram
que o cérebro comanda determinadas ações antes de o individuo ter consciência
delas. O psicólogo Benjamin Libet através de um experimento mostrou que uma
região do cérebro envolvida em coordenar a atividade motora apresentava
atividade elétrica uma fração de segundos antes dos voluntários tomarem uma
decisão, no caso, apertar um botão. Estudos posteriores corroboraram a tese de
Libet, de que a atividade cerebral precede e determina uma escolha consciente. Provavelmente,
a esta altura, o leitor estar se perguntando: “ Espere, Você está dizendo que
escolhemos de forma automática baseado em nossas experiências? Isto não é
determinista demais? Se for assim, o que adianta toda essa discussão, assassinos continuarão assassinos e farsantes continuarão farsantes, não é mesmo? ”. Pode o
ser humano mudar isso? É isso que nos interessa investigar. Será que a partir
do momento que o ser humano se torna consciente da realidade de que ele vêm
sendo condicionado, de que ele tem diversos atos ritualísticos por repetição,
por recompensa. Pode ele mudar? Isto é, pode ele duvidar de sua própria
experiência? Poderemos habitar esta linda terra com vales, cascatas, plantas, montanhas, pássaros, o mar, tecnologia
em favor do bem-estar, sem o repetitivo
conflito em que vivemos?
Friday, August 30, 2013
O condicionamento humano I
Se eu pudesse obter a resposta para qualquer pergunta, quais seriam as perguntas mais importantes a serem feitas?
Porque sofremos? Porque não temos tempo para fazer as coisas mais essenciais da vida? Porque construímos um mundo cheio de ódio, violência, segregação, guerra, fome, disputa, ganância, ilusão? Porque nos sentimos tão incapazes perante a esses fatos? Qual é a sua resposta?
Talvez eu já tenha tentado mudar tantas e tantas vezes e continuei o mesmo, que acabei desistindo. Me agarro à alguma forma de ilusão que diz que tudo vai ficar bem, que estou melhorando, que estou indo atrás dos meus objetivos, que alguém vai fazer por mim o que deve e só pode ser feito por eu mesmo. Como alguém pode mudar os relacionamentos de outra pessoa? Como alguém pode trazer paz real para a vida de outra pessoa? Como alguém pode mudar a sociedade? Os lideres comunista tentaram, Stalin, Che Guevara, Lenin, Fidel Castro, Mao-tsé-Tung. Mas nós vimos o fracasso dos regimes socialistas em todo o mundo, a tremenda repressão que existiu nesses países, a confusão e conflito gerado. Porque os comunistas esperavam que Stalin resolvesse os seus problemas. O ser humano sabe a condição precária em que vive em todas as partes do mundo, mas o ser humano acredita não ser capaz de mudar, acredita que a humanidade é assim mesmo. Porque? A sociedade é formada por cada ser humano, e cada um de nós está terrivelmente condicionado, de tal forma, que o condicionamento é tudo o que conhecemos. É como ter vivido a vida inteira dentro de uma cerca sem saber que existia um mundo maravilhoso la fora.
Nos identificamos com alguma autoridade: Hitler, Stalin, Freud, e isso nos dá uma segurança, um alívio. Nos identificamos com um grupo, e passamos a supervalorizar esse grupo, colocando-o fora da humanidade. Dizemos a nós mesmos: o ser humano é assim mas o meu grupo é diferente, o grupo a que pertenço é melhor, nós sabemos a verdade, nós somos o que há de melhor na humanidade. Somos arianos, vegetarianos, somos mulçumanos, somos a luz da humanidade. Longe de todos esses rótulos, que eu instituo para mim mesmo, continuo sendo um ser humano, como todos os demais. Com a minha dificuldade diária, inveja, ciúme, correndo atrás de dinheiro, buscando fama, e com um enorme egocentrismo. Tudo que importa são as coisas relativas ao Eu. Minha esposa, meu carro, minha família, meu Estado. Existe um mundo inteiro além disso. O mundo parece não importar, o Eu é a instância mais importante do universo. Daí vemos toda a degradação ambiental, espécies em extinção, poluição do ar.
Muitos de nós nos apegamos a pequenos valores como o fato de não falar palavrão ou não comer carne para idealizar a imagem que fazemos de nós mesmos. Pode um ser humano ver o fato de que ele e o resto da sociedade fazem parte do mesmo condicionamento? Toda vez que eu grito, entro numa discussão, ataco, insulto, corro atrás do vento, eu elaboro minunciosamente uma justificativa para isso. " Eu fiz isso, mas alguém me feriu". E assim o gigante ciclo de ignorância tem perdurado por milhares de anos de existência do ser humano. Todos nossos instrumentos para lidar com isso tem se mostrados insuficientes, o ser humano continua sendo o mesmo bárbaro de antigamente.
Porque eu, você, eles, nós não mudamos?
Porque eu, você, eles, nós não mudamos?
Saturday, April 13, 2013
Descartes: descobrimento ou invenção da subjetividade?
Para o filósofo francês René Descartes todos os seres humanos possuem a
razão, o que difere é o seu uso. Descartes nasceu no século XVI, uma época em
que o conhecimento científico ainda se encontrava completamente desorganizado,
e não havia um método para construí-lo. As discussões filosóficas da época
giravam em torno de opiniões muito diversificadas que não chegavam a nenhuma
conclusão evidente. Os escolásticos dominavam os pensamentos e os preceitos com
os quais se buscava alcançar a verdade; preceitos estes, que surgiram de uma
releitura das obras de Aristóteles, ajustadas às verdades cristãs.
Foi neste contexto que Descartes foi educado, no colégio jesuíta de La Flèche , uma das escolas
mais renomadas da Europa naquele período. Quando concluiu seus estudos em La Fleche , Descartes
estava decepcionado, pois ao invés de ter adquirido conhecimentos verdadeiros
durante os anos de estudo, ele estava repleto de dúvidas. Para ele, o grande
proveito que tirou de seus anos de estudo foi o de descobrir sua própria
ignorância e a distância entre aquilo que era ensinado nas escolas e o
conhecimento verdadeiro. Motivado por esta frustração, Descartes desenvolve a
dúvida metódica, para alcançar algo sólido e evidente. Com este método ele
pretendeu colocar a prova da razão, tudo aquilo que é dubitável, para assim
alcançar algum conhecimento, e a partir dele desenvolver sua filosofia. Entretanto,
Descartes não pode ser considerado um cético absoluto, pois seu método da
dúvida, visava retirar a confiança dos preceitos estabelecidos, para posteriormente
alcançar a Verdade; já os céticos não acreditam na possibilidade de existir uma
verdade absoluta.
Desta forma, Descartes colocou em questão todo o conhecimento aceito na
época; ele aplicou o método da dúvida em diversos setores, inclusive em suas
experiências. Para ele tudo o que julgou verdadeiro até aquele momento foi
devido a sua experiência sensorial. Os sentidos, a principio, foram tomados por
Descartes como enganosos, pois nem sempre um objeto tem o tamanho ou as
propriedades que ele aparenta ter. Há ainda aqueles que acreditam serem reis
sendo mendigos. Como saberia ele se ele também não estava enganado a respeito
de sua auto-imagem? Durante um sonho, uma pessoa acredita firmemente se tratar
de um acontecimento real, mas ao acordar, ela percebe se tratar de um sonho.
Não se poderia supor que existe a chance de passarmos pelo mesmo processo de
ilusão durante a vida de vigília?
Em meio a esta nuvem de dúvidas, Descartes percebeu que, ao pensar, ele
poderia duvidar de praticamente tudo, menos de que ele estava pensando. Ele não
poderia duvidar que duvida. Deste pensamento nasceu sua primeira máxima: Penso,
logo existo. Cogito ergo sum. A
partir desta máxima conseguiu sair de sua dúvida absoluta, mas ainda permaneceu
preso ao cogito. Ele havia confirmado sua própria existência, mas isto era
insuficiente para a elaboração da Ciência Moderna. Ele precisava provar a
existência do mundo e das coisas que viriam a ser os objetos de estudo da
Ciência no futuro. Entretanto, um dos preceitos básicos do seu método era a
regra da evidência, na qual ele decide que irá aceitar em seus juízos somente
aquilo que se mostre de forma clara e distinta, ou seja, apenas irá aceitar
como conhecimento concreto aquilo que seja indubitável; aquilo que o enganou
pelo menos uma vez, passa a ser considerado por ele como enganador. Esta última ideia de que se ele se engana
alguma vez pode estar enganado sempre, fez com que Descartes, em suas
meditações, inventasse o deus enganador. O deus enganador foi o ápice da dúvida
cartesiana a cerca da credibilidade do mundo sensível. O deus enganador era a
suposição de que, havia um ser que dispunha todas as coisas de modo a fazer o
homem acreditar que as coisas são diferentes do que de fato elas são. Até as
verdades mais obvias da matemática ganhavam uma interrogação com este
argumento. O deus enganador, mais tarde chamado de gênio maligno, foi um enorme
problema que só pôde ser solucionado, através da prova da existência de Deus,
como ser perfeito, infinito e não-enganador.
A primeira observação de Descartes que conduzia a prova da existência de
Deus é a de que ele, Descartes, era um ser imperfeito e finito, mas nele
existia a ideia de perfeição e de infinito. A ideia de perfeição não poderia
ter surgido de um ser que está abaixo da hierarquia do ser perfeito, ou seja, a
ideia de perfeição não poderia ter surgido de um ser imperfeito. Descartes
considerava a si mesmo como imperfeito por ele duvidar. Se ele duvidava, é por
que não possuía o conhecimento total e verdadeiro, logo era imperfeito, e
devido a essa imperfeição, necessitava do método para conhecer a verdade das
coisas, ou seja, conhecer Deus.
Descartes provou a existência de Deus, através da própria noção de Deus,
que é a marca deixada pelo criador nos homens. Provada a existência de Deus,
Descartes pôde sair do cogito e assegurar a existência das coisas materiais,
uma vez que, Deus é perfeito e não-enganador. No entanto, Descartes persiste na ideia de que ele é a razão, aquilo pensa, sente ( Res cogitans) e isto é uma
substância de natureza diferente do corpo e da materialidade ( Res extensa).
Esta distinção entre o Cogito e o mundo feita por Descartes repercutiu em
impactos significativos que perduram até os dias de hoje. Através dela o homem
efetuou sua separação absoluta da natureza e pode desenvolver o método
cientifico, com impactos positivos e negativos. As outras regras do método
cartesiano: “dividir, analisar e enumerar” também influenciaram profundamente o
estilo de vida das pessoas, sobretudo na relação do homem com a natureza e com
as outras pessoas. Observa-se que Descartes valorizou a prova de sua existência,
ou seja, do cogito; e da existência de Deus, como garantia de que existem
outras coisas além dele. A existência do mundo através de Deus garantiu a
fundação da ciência moderna e de todas as suas descobertas e invenções. As
coisas se tornaram fatos a serem estudados, divididos e analisados. Descartes
não se preocupou em evidenciar a existência do “outro”. Na visão de mundo
originada de Descartes, o que existe são um conjunto de “cogitos”, cada qual
garantindo sua própria existência isolada dos demais e do mundo. O mundo é um
objeto, do qual deve-se buscar conhecer e extrair suas verdades. O observador e
o observado, foram separados como duas substâncias de natureza distinta. No
entanto a psicologia contemporânea e as neurociências vêm trazendo novas idéias
que poderão reformular esta visão de mundo. Os estudos recentes apontam para a
ideia de que quando um individuo olha para um objeto ele enxerga mais suas
próprias características do que características inerentes a natureza do objeto.
É uma releitura, do que já dizia Descartes, a respeito da falibilidade dos
sentidos.
É concedido a Descartes o titulo de “ pai da ciência moderna”. Graças a
seu método, a ciência pode fazer avanços inestimáveis e as tradições medievais foram
superadas. Como ele propôs, sua
filosofia se tornou as raízes da arvores do conhecimento; a física, durante
muito tempo foi o tronco; e as outras ciências foram os frutos.
No atual momento histórico o
ser humano alcançou todo este avanço nas ciências, mas a humanidade como um todo continua passando
por sofrimentos psíquicos, guerras, conflito, violência, preconceitos e uma
crise ecológica a nível global. Portanto, nos próximos anos, a ciência deverá
passar por uma reforma no modo de investigação da natureza. Deverá abandonar os
padrões individualistas, e se atentar para os problemas sociais, uma vez que
estes já não atingem mais apenas uma parcela da população, mas a população como
um todo; se é que um dia foi diferente.
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