O que me motivou a escrever esse
texto, além de minha introversão, foi a percepção de que vivemos em um mundo
onde o extrovertido é muito mais valorizado, é reconhecido, tem amigos e
consegue mais oportunidades. No geral, o introvertido sente um sentimento de
culpa por sua introversão, ele tenta se adequar às exigências das outras
pessoas, tenta se entrosar e se expor muitas vezes, mas ao sinal da primeira
ameaça de punição, ele retorna para uma espécie de casulo que porventura ele
possa ter criado, com um incrível sentimento de culpa. É importante para mim, ressaltar que esse
texto reflete grande parte da minha experiência pessoal, e que a intenção da
minha escrita não é a de fazer uma demonstração ou manual de como superar o
problema da introversão, problema este que ainda enfrento quase diariamente. O
primeiro ponto que eu gostaria de tratar, é que a introversão não é algo a ser
superado, ela é na verdade, um estilo psicológico, um modo de encarar e ver o
mundo, e a pessoa introvertida ganha muito mais se souber utilizar este
característica à seu favor, seja na interação com os amigos, na vida
profissional ou na paquera. Existem pessoas que simplesmente não gostam de se
expor constantemente, não irão iniciar interações em filas de bancos, nem vão
fazer inúmeras participações nas aulas da faculdade. Elas têm mais interesse e
capacidade em ler livros enquanto tomam um café quente em dia de chuva,
assistir bons filmes, jogar xadrez com um(a) amigo(a), escrever, conversar a
dois, falar menos dando mais oportunidade para a outra pessoa falar, viajar
para o interior e conhecer cachoeiras. Isto não configura problema algum a
princípio, não significa que a pessoa seja antissocial, nem que ela se acha
superior, significa apenas que ela tem a capacidade de partir dos seus
pensamentos, de seus sentimentos, de seu mundo interno para se posicionar no
mundo, e não o contrário, como é o caso do extrovertido, que primeiro age, e
depois reflete sobre o que ocorreu. Resumidamente, tanto a introversão como a
extroversão tem suas vantagens e desvantagens, o extrovertido é alguém que vai
mover as coisas e vai comunicar abertamente o seu posicionamento, já o
introvertido vai reter algumas informações para depois chegar a conclusão do
que é melhor a se fazer. O ideal mesmo é
que os entes humanos tivessem equilibradamente uma dose de introversão e uma
dose de extroversão, mas é necessário entender que qualquer esforço obsessivo
nesse sentido é prejudicial ao sujeito. Numa perspectiva rogeriana apenas a
autenticidade é que pode fomentar o aprendizado necessário para tornar-se “humano”.
Quando Carl Rogers (1980) fala sobre
autenticidade percebe-se como a autenticidade está para além das palavras, não
se trata de seguir regras sobre o que uma pessoa autêntica deve fazer. O que
posso dizer sobre autenticidade, posso dizer apenas sobre minha jornada rumo a autenticidade,
e meu processo de tornar-me autêntico. É possível que o meu processo ( que está
em andamento) carregue consigo leis universais, mas não me arrisco a explora-las,
cabe ao leitor comparar minha situação com sua situação pessoal, e ver se
partindo disso temos pontos em comum. Sobre mim, posso dizer que aceitar minha
introversão tem sido como me livrar de um terrível peso sobre meus ombros, e ressalto
que introversão não significa isolamento. Isolamento é patológico. Para
Erickson (1976) o polo oposto do isolamento é a intimidade, e de fato, as
pessoas se isolam porque temem o contato íntimo com outras pessoas, e elas
podem fazer isto por vários motivos que descreverei. Esse é na verdade um dos
maiores riscos da introversão, construir um casulo formado por regras muito
rígidas, tão rígidas, que qualquer aproximação de outra pessoa pareça um
ataque, pois já que cada pessoa tem seus próprios valores, é inevitável que
questionemos os valores uns dos outros. Para uma boa convivência com os demais
considero importante que cada pessoa conheça os seus valores pessoais, conheça
quais são estas regras que regulam seu comportamento, porque o conhecimento
desses valores, o popularmente chamado auto-conhecimento, é que permite que nos
tornemos íntimos de outras pessoas. Conhecer a si mesmo permite ser congruente,
mostrar quais são seus limites para o outro, superar seus limites e respeitar
os limites das outras pessoas. E
finalmente, quando digo aceitar a introversão, me refiro a liberdade de
escolher o que quero fazer, de manejar as cobranças sociais, de modo que se eu
não quiser estar na companhia de muita gente naquele momento, posso fazer isto.
Apesar de estar distante disto, acredito
na possibilidade de um ser humano gostar de sua própria companhia a tal ponto
que suponha que os outros também irão gostar de tê-o como companhia.