Saturday, December 13, 2014

Coisas Inimagináveis

No mundo individualista não há especial 
Porque todos se acham tão especiais 
Que acabam sendo como todos 

No grupo há um conjunto de Eus 
Porque todos são tão separados 
Que acabam não sendo um todo 

Na multidão há o espanto 
Porque todos são tão iguais 
Que assusta fazer parte do enxame 

Na relação há projeção 
Porque todos são tão ansiosos 
Que assusta não saber do outro 

No fim ainda há esperança 
Porque todos são tão capazes 
Que poderiam fazer da vida 
Coisas Inimagináveis 




Saturday, December 6, 2014

Solitude

As palavras são carregadas de peso, de carga: elétrons e prótons.
Por isso, escolhi solitude, penso que solidão é uma palavra muito feia.
Sobre essa escolha: eu sei que no fundo você me entende, toda alma tem sua hora.
E tem hora que está eufórica, e tem hora que precisa de descanso.

Solitude, eu te convido, a saborear um pouco dessa magnífica palavra.
Se afastar da civilização, voltar ao natural, buscar a si mesmo, eis a verdadeira solitude!
Mas não se prenda muito a palavra... Vá além! Entende o que quero dizer?
Porque a palavra é a base da civilização... é a arma que substitui a arma, que movimenta.

Por isso não seja totalmente seduzido pelas palavras bonitas
E nem feche seus ouvidos quando ouvir uma palavra feia.
Do contrário, o ciclo do preconceito nunca terá fim.
Ou melhor, o ciclo do conceito, não vejo tanta diferença.

Então, pra rimar com solitude, nada melhor que uma poesia sem rima.
Porque solitude não tem uma lógica, não tem sequência, não tem regra.
Apenas um ímpeto, apenas uma vontade de se aventurar.
Porque quando você estiver só, você vai entender, como a cultura te marca.





Thursday, August 21, 2014

O planeta dos macacos - o confronto (2014)

O segundo filme da nova saga de "O planeta dos macacos" contêm elementos interessantes, e sem dúvidas é um filme que não deve passar batido pelos apreciadores do cinema. O filme remonta a história da própria humanidade ao falar de como surgem os grupos, da luta pela sobrevivência, da relação do homem civilizado com os animais e com os "selvagens", das tensões entre grupos diferentes e da origem de uma guerra. Li uma crítica que dizia que o filme repete o velho clichê "civilização x selvagens", presente em Avatar, Pocahontas, e muitos outros filmes. Porém, acredito que esse filme traz algo um pouco incomum, que é o fato de se tratar de uma civilização apocalíptica. Os seres humanos do filme não estão em posição de superioridade tal como os colonizadores de outros filmes, mas eles estão lutando pela própria sobrevivência.

No primeiro filme, um grupo de macacos (que devido à um experimento se tornaram super inteligentes) se rebela e foge do cativeiro, enquanto uma nova epidemia de um vírus ameaça a humanidade. Neste segundo filme, 10 anos depois da fuga do grupo rebelde de macacos, César, o líder dos macacos, é novamente um dos protagonistas. César e os demais tem pela frente um desafio: o reaparecimento dos humanos após alguns anos de seu sumiço, devido a doença que se alastrou pelo mundo devastando as populações humanas. Logo que os humanos começam a reaparecer, surgem as tensões, uma vez que os humanos pretendem restaurar a energia elétrica na antiga cidade humana, e isso irá depender de uma antiga hidrelétrica que se encontra desativada no território dos macacos. É nessa tensa relação que se encontra pra mim o brilhantismo dessa  longa-metragem. Fazendo uma analogia com a vida real, o comportamento humano ao longo da história tem sido de valorizar o que pertence ao "meu grupo", e produzir preconceitos em relação ao "outro grupo". É na confirmação desses preconceitos que surge o pretexto para a violência. Voltando para o filme, os macacos viam o ser humano com desconfiança, e a maior parte dos humanos viam os macacos como meros animais. A confirmação do preconceito veio através de um único evento, que foi quando um humano isolado agiu de forma desleal com os macacos. Nesse momento ocorre a generalização, os macacos concluíram erroneamente que todos os humanos são iguais. Sendo assim, há o pretexto para a guerra. Mas ainda assim, ela parte de apenas um dos macacos, que dissemina a ideia de que os humanos estão mal intencionados. Uma das falas do filme que ilustra bem essa relação entre os grupos, é quando César diz que ele pensava que os macacos fossem diferentes dos humanos mas na verdade são iguais. 

Na história da humanidade muitas guerras, carnificinas e até mesmo pequenas violências do dia-a-dia começaram e foram justificadas pelo fato de pessoas pertencerem a grupos diferentes, com valores e objetivos opostos mas que no fim são a mesma coisa: o "instinto de rebanho". Sem mais delongas, não quero dar spoillers para quem não assistiu o filme. Apreciei e recomendo!      

Wednesday, May 21, 2014

A criatura e os humanos (conto)


Sophia sempre costumou ser uma garotinha muito esperta. Sua curiosidade típica da infância a ajudava a aprender algo novo todos os dias. Numa certa ocasião, quando tinha 7 anos, ela começou a enxergar coisas que as pessoas normais não viam. É sobre essa primeira visão que trata essa história. Daquele dia em diante Sophia não parou mais de ver. Tudo começou em um dia de primavera. Sophia estava no carro com sua mãe voltando de um passeio. Em determinado momento do trajeto Sophia olhou através do vidro fumê do veículo e viu algo se rastejando na rua. Uma criatura deplorável, que se mexia mancando e curvando-se a cada passo. Provavelmente era um animal, como aquele esquisito que ela vira no zoológico, tinha garras e muitos pelos espalhados pelo corpo todo. Além disso parecia doente, como se tivesse se alimentado de comida estragada nos últimos meses. Os olhos do estranho ser cruzaram os olhos de Sophia, e foi algo tão natural, que Sophia teve certeza de uma série de coisas. A primeira delas, é que sua mãe não conseguia enxergar a aparição. A segunda coisa, o bicho tinha alma, sim, aquele olhar não é um olhar de pedra, é um olhar de coisa com alma. Talvez fosse uma alma. Lembrou-se, certa vez seu primo lhe contará uma história de espíritos para meter medo. Disse que quando as pessoas morrem elas se tornam almas vagando pela terra até encontrarem seu caminho. E que algumas dessas almas são brincalhonas e maliciosas, perturbando a noite e o dia dos vivos. Refletiu, mas esse não era o caso da criatura em questão, não era uma alma. Notava-se as gotas de suor em sua pele, os dentes projetavam-se para frente numa constante ameaça de ataque, até uma criança de 7 anos poderia ter certeza de que estava viva. Essa foi a terceira certeza. Não era um ser do além! A quarta certeza é sem dúvidas a mais impactante, pois põe em xeque tudo o que Sophia aprendera sobre a vida, seja o que a professora ensinara, ou a mãe. A realidade é que... 

Deixe me contar isso de outra maneira... Um instante depois de os olhares se encontrarem, o veículo parou bruscamente. Acima do carro a luz verde se apagara e a luz vermelha acendera. Sua professora explicara no dia anterior que isto era um sinal para os veículos pararem. No momento em que o carro parou a aberração se aproximou em longas passadas, como um leopardo indo de encontro a um gnu. A mãe de Sophia começou a ver, e segurou firme no braço da filha. Quanto mais próximo estava mais nítido ficavam seus contornos: sua cabeça era achatada, seus membros compridos e esguios. A coisa bateu no vidro do carro. Momentos de tensão para Sophia e sua mãe. O coração da garota disparou. De repente, a mãe de Sophia abaixou o vidro, e estendeu a mão com algumas moedas. Era humano. 

Wednesday, May 7, 2014

Uma introdução ao Tao

A arte do Wu Wei        

O Wu Wei é um dos ensinamentos centrais da filosofia taoista, cujo valor é inestimável para aqueles que o compreenderam. O taoismo é considerado aqui no ocidente uma religião ou filosofia, mas sua essência é bastante diferente das filosofias ou religiões ocidentais. Eu descreveria o Wu wei, como um estilo de vida que ameniza o stress de nossa rotina, traz paz, diminui a preocupação com o futuro, e disciplina nossas ações. Contudo, as palavras disciplina e ensinamentos, tem no oriente uma natureza totalmente diferente do sentido usual no ocidente: confusão causada pelo modo como fomos educados aqui no ocidente! A nossa educação tem sido baseada na repressão, no esgotamento da energia, num despejo de informações vindas do professor, na obrigatoriedade em cumprir o conteúdo programático e principalmente na existência de regras e proibições rígidas. Mas não é a respeito desse tipo de ensinamento que o taoismo trata, e sim a respeito da autonomia. Como pode alguém ser realmente disciplinado se não tem autonomia? A disciplina do ocidente é como a disciplina militar, ela molda o comportamento, mas também submete a autoridade. E quem está submetido a autoridade nunca está livre. Está sempre tendo que obedecer leis intransgressíveis. E essa autoridade pode ser externa, ou estar internalizada. Por isso, é muito difícil para o ocidental contemporâneo compreender o Wu wei, pois ele também irá tentar transforma-lo em uma lei.   
O taoismo, assim como a psicologia, é o estudo da mente humana, contudo, por uma via totalmente diferente. O termo chinês "Wu wei" significa literalmente não agir. Enquanto a psicologia intervem na mente, o wu wei apenas a "deixa estar", por assim dizer. O que seria esta não-ação? Ao contrário do que possa parecer não significa ficar inerte e morrer de fome. Eu poderia dizer que Wu wei significa você não lutar contra sua natureza. Muita energia é dissipada nessa luta. Mentimos diariamente a respeito de quem somos, usamos uma máscara toda vez que saímos de casa ( Persona). Contudo, estou quase certo, que não lutar contra sua natureza, não significa que você tenha uma natureza fixa. A natureza humana é mutável, criativa, fluída, não há natureza humana enrijecida.  
Para evitar confusão, algumas pessoas denominam o Wu wei, de Wei wu wei. Que significa literalmente, agir não-agindo. O acréscimo do termo "wei" denota que este estilo de vida não significa ficar parado, inerte, morto. Pelo contrário, ele desbloqueia o que te impede de agir: o medo. A ação contida no Wu wei não tem por objetivo distorcer a realidade, nem idealizar, nem ter uma visão pejorativa, nem ter planos impossíveis, e nem esconder os seus desejos em locais que nem você ache.
O wu wei, quando bem compreendido, lentamente tira a mente do estado de confusão. A grande confusão da mente é a escolha. Preferimos gastar uma vida inteira escolhendo o que é melhor fazer, do que de fato ir fazer algo significativo. Se por um lado, esta confusão surge dos diversos ensinamentos que recebemos ao longo da vida, o wu wei, consiste em desaprender, é o ensinamento do desensinamento.   

Friday, March 28, 2014

Gratidão

Um dos sentimentos mais religiosos que existem, no bom sentido da palavra religioso, é o sentimento de gratidão. No cristianismo, em muitos contextos, talvez essa palavra tenha se associado à obediência, fazendo-se perder a real beleza da palavra. A lógica das religiões monoteístas, tanto do cristianismo como outros sistemas de crença, é a de que se um ser superior nos deu a vida e individualmente nos protege do mal, esse ser merece nossa obediência. Com a ideia de obediência, o que as religiões propõem, é que seus adeptos sigam seu caminho, caminho este marcado por um código de conduta, que recebe o título de "a vontade de Deus". Com isso, a religião, com seu poder político, e se aliando a outras forças ( o Estado, a família, a escola) , conseguiu durante séculos, e ainda atualmente, influenciar os rumos em que a sociedade se desenvolve.
Se você olhar por esse lado, certamente, tomará partido contra a religião. A posteriori concordo com essa decisão, mas acho que se perde um olhar interessante quando não se olha para o que exatamente a religião aponta. Não estou falando a respeito de Deus, pelo menos não exatamente.
Estou quase certo de que tem algo na vivência religiosa, que vai além do que chamam de alienação. Algo verdadeiro, mas que não confirma a tese monoteísta, pelo contrário, mostra de que terreno desconhecido os sacerdotes vêm se apropriando durante milênios, para dominar e manipular as massas. Me refiro à gratidão mencionada no começo do texto. Gratidão num senso diferente, mais no sentido da palavra compaixão. Esta gratidão não é um dever como propõe as religiões, não há ninguém para punir os ingratos, e ninguém para recompensar os gratos.
Por mais que sofremos, nos desgastemos, perdemos coisas e pessoas importantes, ainda assim é uma aventura e tanto estar vivo, não? E a morte é a garantia de que a vida merece ser celebrada, pois independente do que acontecer durante nossa vida, o sofrimento termina com a morte. Esse é o grande mistério, o mistério existencial, com que finalidade estou vivo? Acho que nenhum de nós tem a resposta para isto, e talvez nem seja uma pergunta sensata.  Numa certa feita, o guru Osho disse algo interessante sobre isso, não que eu seja um grande admirador dele. Ele perguntou aos seus discípulos: "Porque uma flor floresce?". Esta pergunta é semelhante com a pergunta " Porque estou vivo?", pois em ambas as coisas, não há um objetivo, mas inúmeras finalidades possíveis, tantas, que nem se pode dar uma resposta. O mais sensato é admirar a beleza da flor.
Em geral, até os 40 anos, as pessoas olham muito para o que ainda vão conquistar, o que precisam ter, quem ainda vão ser, a casa que irão construir e o que desejam. Ainda não tenho esta idade, mas pelo que ouço falar, e pelo que a teoria diz, chegada a meia-idade as pessoas começam a olhar mais para o que conquistaram ou para o que já possuem. Por esse e outros motivos, a sabedoria sempre esteve tão associada aos mais velhos, apesar de que em nossa cultura, há um movimento de inserção até mesmo dos idosos na lógica de mercado. Temos hoje velhinhos altamente consumidores! Mas antes que eu me desvie do assunto, o que quero falar é sobre essa mudança de postura que costuma ocorrer quando as pessoas ficam mais velhas. É o momento em que a pessoa desiste de perseguir as imagens idealizadas e passa a tentar encontrar os pontos positivos da realidade em que ela se encontra. Quando digo imagens idealizadas, me refiro ao que um indivíduo está tentando se tornar, a imagem a partir do qual ele traça os seus objetivos: o corpo, posição ou status que ele quer alcançar. Suspeito que a concretização dessas imagens não resulta na satisfação prometida. Trata-se de uma falsa promessa de felicidade. Suspeito disso, porque as coisas que eu julgava essenciais que alcancei não me trouxeram a paz. Talvez só as pessoas famosas e muito ricas possam atestar verdadeiramente isto. Temos exemplos e exemplos de artistas famosos que perderam o sentido de viver, mesmo dispondo da melhor comida, parceiros amorosos, diversão e prestígio que a sociedade poderia oferecer. Portanto aquelas pessoas que tanto almejamos nos tornar, na verdade, não estão necessariamente satisfeitas. A satisfação é uma postura mental! E não tenha dúvidas, uma pessoa satisfeita é uma pessoa grata. Não satisfeita no sentido comum, de se saciar de uma nova conquista, mas realmente satisfeita, no sentido de não precisar de muitas coisas que não possui. 

Wednesday, February 26, 2014

Precisamos de dinheiro?

Existe uma coisa no mundo que é facilmente capaz de legitimar a violência, a escravidão, exploração e injustiça. Não discordamos dele, ele é tido como tão natural, tão primário e necessário que seria impossível imaginar uma sociedade bem organizada sem ele. Quais seriam os parâmetros de uma sociedade sem dinheiro? É nossa tendência pensar que voltaríamos a época da barbárie, que o desenvolvimento tecnológico pararia e ninguém mais iria querer trabalhar, afinal o trabalho é uma coisa enfadonha, rotineira e cansativa: grande parte das pessoas não gostaria de ter a ocupação que têm. Escolhemos nosso trabalho, muitas vezes baseados na segurança, procuramos aquele que vai garantir nossa sobrevivência. Para os mais afortunados é apenas uma segurança psicológica, para outros é literalmente biológica, precisamos comer, mas em todos os casos envolvem necessidades sociais. Você já se perguntou o que significa quando vemos uma pessoa com certa instabilidade financeira gastar todo o dinheiro do mês com roupas de marca e um eletrônico?  
                Para se entender como o capitalismo funciona atualmente, é preciso falar sobre a relação entre o trabalhador e os donos das empresas. Digamos que o trabalhador trabalhe para comprar o que ele próprio produziu, deixe-me explicar. Com 20% de seu lucro o dono de uma empresa paga todos os seus funcionários, e com esse dinheiro que recebem, esses funcionários compram sem parar das grandes empresas, movimentando o mercado. Henry Ford foi um dos gênios malignos dessa lógica, o inaugurador da produção em série, conseguiu atingir um nível de produção jamais visto, e fazia parte do regulamento da empresa que os funcionários comprassem apenas automóveis Ford. Para Henry Ford era fundamental que seus funcionários ganhassem bem, pois em sua astúcia, ele sabia que seu sucesso dependia do mercado consumidor. Com a revolução das máquinas, uma onda de desemprego ameaçava o mundo, desemprego esse, que não era um bom negócio para a alta burguesia. O ser humano tem tecnologia suficiente para que as máquinas façam todo o serviço pesado por nós, mas é fundamental para a movimentação econômica que não estejamos desempregados e sejamos consumidores em potencial. Há uma série de empregos inúteis em nossa sociedade, que não vou citar em respeito aos que exercem essas profissões. Se deixarmos as máquinas trabalharem e cessarmos o consumismo desenfreado poderíamos trabalhar cerca de três horas por dia. Recentemente o simpático presidente Uruguaio, Pepe Mujica, afirmou em um de seus discursos que ao reduzir a jornada de trabalho de alguns setores para 6 horas por dia, as pessoas passaram a procurar dois empregos. Porque vivemos em uma sociedade altamente competitiva, precisamos de mais lucro! Para Pepe Mujica, e devo concordar com ele, é o mercado que rege o ser humano e não o contrário. Os produtos são lançados de acordo com a regra do lucro e não de acordo com nossas necessidades. Ou seja, é fundamental que a tecnologia seja lançada aos poucos, que troquemos de carro todo ano, que troquemos de celular, de Tv e de computador. Além do fato de que manter um celular velho nos faz sentir ultrapassados, ainda existe o fato de que os bens de consumo não são feitos para durar! A industria das lâmpadas por exemplo pode fazer lâmpadas que durem 100 vezes mais, mas isto não é um negócio lucrativo, não é mesmo? Toneladas de produtos são jogados no lixo todos os dias, a degradação ambiental consequente da pouca durabilidade dos produtos é gigantesca e completamente irracional! A investigação científica também fica a mercê do investimento financeiro, não há pesquisa se não há lucro, não se quer saber o quanto uma tecnologia nova pode ajudar as pessoas, e sim, o quanto  de dinheiro se pode obter delas. Na área de saúde mental por exemplo, temos o domínio da indústria farmacológica, e sua influência no meio acadêmico, que são os diagnósticos. Quanto mais diagnósticos, mais remédios vendidos, pois a lógica é transformar os problemas psicológicos todos em doenças, pois doenças só são tratadas com medicamentos. Deixar o mercado reger a si mesmo, confiando na mão invisível proposta por Adam Smith, é contribuir para que jogadores de futebol ganhem um salário de 500 mil, para que senadores ganhem 26,5 mil e professores ganhem apenas mil reais. Moro em uma cidade em que um metrô em construção deveria ser entregue a mais de 10 anos atrás, mas todo esse dinheiro oriundo da arrecadação de impostos vem sendo desviado; vivo em um país onde certos lideres religiosos arrecadam milhões e vivem em mansões de luxo a custa de seus fiéis.  O sucesso dessas instituições revela que quem está por baixo precisa e carece de segurança, de comida, saúde, conforto, casa, e por isso são influenciadas pelas promessas de líderes carismáticos que emanam riqueza e prosperidade. Este é um convite à reflexão, a estudar a história do dinheiro (que atualmente dita quem pode e quem não pode), e a não aceitar a exploração da classe trabalhadora. 

Saturday, February 1, 2014

Sobre a introversão

O que me motivou a escrever esse texto, além de minha introversão, foi a percepção de que vivemos em um mundo onde o extrovertido é muito mais valorizado, é reconhecido, tem amigos e consegue mais oportunidades. No geral, o introvertido sente um sentimento de culpa por sua introversão, ele tenta se adequar às exigências das outras pessoas, tenta se entrosar e se expor muitas vezes, mas ao sinal da primeira ameaça de punição, ele retorna para uma espécie de casulo que porventura ele possa ter criado, com um incrível sentimento de culpa.  É importante para mim, ressaltar que esse texto reflete grande parte da minha experiência pessoal, e que a intenção da minha escrita não é a de fazer uma demonstração ou manual de como superar o problema da introversão, problema este que ainda enfrento quase diariamente. O primeiro ponto que eu gostaria de tratar, é que a introversão não é algo a ser superado, ela é na verdade, um estilo psicológico, um modo de encarar e ver o mundo, e a pessoa introvertida ganha muito mais se souber utilizar este característica à seu favor, seja na interação com os amigos, na vida profissional ou na paquera. Existem pessoas que simplesmente não gostam de se expor constantemente, não irão iniciar interações em filas de bancos, nem vão fazer inúmeras participações nas aulas da faculdade. Elas têm mais interesse e capacidade em ler livros enquanto tomam um café quente em dia de chuva, assistir bons filmes, jogar xadrez com um(a) amigo(a), escrever, conversar a dois, falar menos dando mais oportunidade para a outra pessoa falar, viajar para o interior e conhecer cachoeiras. Isto não configura problema algum a princípio, não significa que a pessoa seja antissocial, nem que ela se acha superior, significa apenas que ela tem a capacidade de partir dos seus pensamentos, de seus sentimentos, de seu mundo interno para se posicionar no mundo, e não o contrário, como é o caso do extrovertido, que primeiro age, e depois reflete sobre o que ocorreu. Resumidamente, tanto a introversão como a extroversão tem suas vantagens e desvantagens, o extrovertido é alguém que vai mover as coisas e vai comunicar abertamente o seu posicionamento, já o introvertido vai reter algumas informações para depois chegar a conclusão do que é melhor a se fazer.  O ideal mesmo é que os entes humanos tivessem equilibradamente uma dose de introversão e uma dose de extroversão, mas é necessário entender que qualquer esforço obsessivo nesse sentido é prejudicial ao sujeito. Numa perspectiva rogeriana apenas a autenticidade é que pode fomentar o aprendizado necessário para tornar-se “humano”.  Quando Carl Rogers (1980) fala sobre autenticidade percebe-se como a autenticidade está para além das palavras, não se trata de seguir regras sobre o que uma pessoa autêntica deve fazer. O que posso dizer sobre autenticidade, posso dizer apenas sobre minha jornada rumo a autenticidade, e meu processo de tornar-me autêntico. É possível que o meu processo ( que está em andamento) carregue consigo leis universais, mas não me arrisco a explora-las, cabe ao leitor comparar minha situação com sua situação pessoal, e ver se partindo disso temos pontos em comum. Sobre mim, posso dizer que aceitar minha introversão tem sido como me livrar de um terrível peso sobre meus ombros, e ressalto que introversão não significa isolamento. Isolamento é patológico. Para Erickson (1976) o polo oposto do isolamento é a intimidade, e de fato, as pessoas se isolam porque temem o contato íntimo com outras pessoas, e elas podem fazer isto por vários motivos que descreverei. Esse é na verdade um dos maiores riscos da introversão, construir um casulo formado por regras muito rígidas, tão rígidas, que qualquer aproximação de outra pessoa pareça um ataque, pois já que cada pessoa tem seus próprios valores, é inevitável que questionemos os valores uns dos outros. Para uma boa convivência com os demais considero importante que cada pessoa conheça os seus valores pessoais, conheça quais são estas regras que regulam seu comportamento, porque o conhecimento desses valores, o popularmente chamado auto-conhecimento, é que permite que nos tornemos íntimos de outras pessoas. Conhecer a si mesmo permite ser congruente, mostrar quais são seus limites para o outro, superar seus limites e respeitar os limites das outras pessoas.  E finalmente, quando digo aceitar a introversão, me refiro a liberdade de escolher o que quero fazer, de manejar as cobranças sociais, de modo que se eu não quiser estar na companhia de muita gente naquele momento, posso fazer isto.  Apesar de estar distante disto, acredito na possibilidade de um ser humano gostar de sua própria companhia a tal ponto que suponha que os outros também irão gostar de tê-o como companhia.