Existe uma coisa no mundo que é facilmente capaz de legitimar a violência, a escravidão, exploração e injustiça. Não discordamos dele, ele é tido como tão natural, tão primário e necessário que seria impossível imaginar uma sociedade bem organizada sem ele. Quais seriam os parâmetros de uma sociedade sem dinheiro? É nossa tendência pensar que voltaríamos a época da barbárie, que o desenvolvimento tecnológico pararia e ninguém mais iria querer trabalhar, afinal o trabalho é uma coisa enfadonha, rotineira e cansativa: grande parte das pessoas não gostaria de ter a ocupação que têm. Escolhemos nosso trabalho, muitas vezes baseados na segurança, procuramos aquele que vai garantir nossa sobrevivência. Para os mais afortunados é apenas uma segurança psicológica, para outros é literalmente biológica, precisamos comer, mas em todos os casos envolvem necessidades sociais. Você já se perguntou o que significa quando vemos uma pessoa com certa instabilidade financeira gastar todo o dinheiro do mês com roupas de marca e um eletrônico?
Para se
entender como o capitalismo funciona atualmente, é preciso falar sobre a relação
entre o trabalhador e os donos das empresas. Digamos que o trabalhador trabalhe
para comprar o que ele próprio produziu, deixe-me explicar. Com 20% de seu
lucro o dono de uma empresa paga todos os seus funcionários, e com esse
dinheiro que recebem, esses funcionários compram sem parar das grandes
empresas, movimentando o mercado. Henry Ford foi um dos gênios malignos dessa
lógica, o inaugurador da produção em série, conseguiu atingir um nível de
produção jamais visto, e fazia parte do regulamento da empresa que os
funcionários comprassem apenas automóveis Ford. Para Henry Ford era fundamental
que seus funcionários ganhassem bem, pois em sua astúcia, ele sabia que seu
sucesso dependia do mercado consumidor. Com a revolução das máquinas, uma onda
de desemprego ameaçava o mundo, desemprego esse, que não era um bom negócio
para a alta burguesia. O ser humano tem tecnologia suficiente para que as
máquinas façam todo o serviço pesado por nós, mas é fundamental para a
movimentação econômica que não estejamos desempregados e sejamos consumidores
em potencial. Há uma série de empregos inúteis em nossa sociedade, que não vou citar em respeito aos que exercem essas profissões. Se deixarmos as máquinas trabalharem e cessarmos o consumismo desenfreado poderíamos trabalhar cerca de três horas por dia. Recentemente o simpático presidente Uruguaio, Pepe Mujica, afirmou em um de seus discursos que ao reduzir a jornada de trabalho de alguns setores para 6 horas por dia, as pessoas passaram a procurar dois empregos. Porque vivemos em uma sociedade altamente competitiva, precisamos de mais lucro! Para Pepe Mujica, e devo concordar com ele, é o mercado que rege o ser humano e não o contrário. Os produtos são lançados de acordo com a regra do lucro e não de
acordo com nossas necessidades. Ou seja, é fundamental que a tecnologia seja
lançada aos poucos, que troquemos de carro todo ano, que troquemos de celular,
de Tv e de computador. Além do fato de que manter um celular velho nos faz
sentir ultrapassados, ainda existe o fato de que os bens de consumo não são
feitos para durar! A industria das lâmpadas por exemplo pode fazer lâmpadas que
durem 100 vezes mais, mas isto não é um negócio lucrativo, não é mesmo? Toneladas
de produtos são jogados no lixo todos os dias, a degradação ambiental
consequente da pouca durabilidade dos produtos é gigantesca e completamente
irracional! A investigação científica também fica a mercê do investimento
financeiro, não há pesquisa se não há lucro, não se quer saber o quanto uma
tecnologia nova pode ajudar as pessoas, e sim, o quanto de dinheiro se pode obter delas. Na área de
saúde mental por exemplo, temos o domínio da indústria farmacológica, e sua
influência no meio acadêmico, que são os diagnósticos. Quanto mais
diagnósticos, mais remédios vendidos, pois a lógica é transformar os problemas
psicológicos todos em doenças, pois doenças só são tratadas com medicamentos. Deixar
o mercado reger a si mesmo, confiando na mão invisível proposta por Adam Smith,
é contribuir para que jogadores de futebol ganhem um salário de 500 mil, para
que senadores ganhem 26,5 mil e professores ganhem apenas mil reais. Moro em
uma cidade em que um metrô em construção deveria ser entregue a mais de 10 anos
atrás, mas todo esse dinheiro oriundo da arrecadação de impostos vem sendo
desviado; vivo em um país onde certos lideres religiosos arrecadam milhões e
vivem em mansões de luxo a custa de seus fiéis.
O sucesso dessas instituições revela que quem está por baixo precisa e
carece de segurança, de comida, saúde, conforto, casa, e por isso são
influenciadas pelas promessas de líderes carismáticos que emanam riqueza e
prosperidade. Este é um convite à reflexão, a estudar a história do dinheiro (que atualmente dita quem pode e quem não pode), e a não aceitar a exploração da
classe trabalhadora.