Introdução
“A história das
organizações está intimamente ligada à história da sociedade humana. As
organizações não são invenção moderna. Os faraós delas se utilizaram para
construir as pirâmides. Os imperadores da China delas se utilizaram, há
milhares de anos, para construir grandes sistemas de irrigação. E os primeiros
Papas criaram uma igreja universal a fim de servir a uma religião universal “(ETZIONI,
1989). As organizações são um conjunto de indivíduos, que mesmo com suas
particularidades, estão ligados por uma missão em comum.
Este trabalho tem como objetivo trazer a historia das
organizações desde os seus primórdios, bem como seu desenvolvimento e adequação
na atual conjuntura do capitalismo. No
estudo das organizações é sempre importante entender os contextos
sócio-culturais em que elas estão inseridas, pois isso é determinante para
trazer a tona suas necessidades, direcionamentos e perspectivas. Além de
observar a sociedade e seus desdobramentos, este trabalho também traz a
estrutura organizacional e as problemáticas modernas nas relações entre os
diferentes indivíduos de uma organização; bem como um olhar para questões ainda
maiores como a relação do indivíduo com a organização como um todo e o mito
moderno das “organizações imortais e perfeitas”. É possível destacar ainda, os
movimentos de contracultura que surgem ao longo da historia, como por exemplo,
o movimento hippie; e o contexto social atual que tem levantado a questão intercultural
nas organizações, devido à pequena distância que existe entre qualquer ponto do
globo terrestre hoje em dia com a globalização.
História
das organizações
A história das grandes empresas tem início no período
de transição que ocorreu a partir da primeira revolução industrial, ocorrida na
Inglaterra. Até o século XVIII um produto era produzido, em todas suas etapas,
por um único artesão; mas com a invenção da máquina a vapor por James Watt, a
indústria começou o seu desenvolvimento. Teve inicio uma ampla divisão de
tarefas e o surgimento das maquinas como grande fonte de trabalho; neste
período inicial da indústria o trabalhador se encontrava numa situação
delicada, pois ainda não contavam com a força dos sindicatos e estava
completamente a mercê dos donos do capital. Os trabalhadores eram explorados
com jornadas de trabalho gigantescas, remuneração pequena, e nenhuma das
vantagens oferecidas atualmente pelas empresas, como plano de saúde por
exemplo. Esse modelo que enxerga o funcionário como uma espécie de ferramenta
que pode ser facilmente substituída influenciou todo o desenvolvimento da
indústria e trouxe implicações que podem ser notadas ainda hoje. Esta
influência pode ser notada também em dois modelos importantes que surgiram no
início do século XX: o Taylorismo e o Fordismo, que derivam respectivamente dos
empreendedores Frederick Taylor e Henry Ford.
Frederick Winslow Taylor (1856 – 1915) valorizou
acima de tudo o lucro; no modelo criado por ele o importante era produzir em
larga escala e o mais rápido possível; para isso, ele julgou desnecessário que
o trabalhador conhecesse todo o processo de produção, ele apenas queria que
seus funcionários realizassem com eficiência a etapa do processo que era
designada a cada um deles; e era função do gerente planejar a sincronia entre
as funções dos operários. Com isso, o trabalho se tornou ainda mais dividido; e
o processo criativo do trabalhador estava ameaçado, pois a tendência proposta
por Taylor era a da mecanização do trabalhador, que desempenhava na empresa um
papel repetitivo e treinado; frustrando muitas vezes a necessidade psicológica
do ser humano de se colocar em sua obra; ou seja, a necessidade do trabalhador
de inserir sua individualidade na criação do produto. Seguindo uma linha de
pensamento semelhante à de Taylor, no começo do século XX, surge o chamado
fordismo. A principal novidade implantada por Henry Ford foi à linha de
montagem, que acelerou a produção quebrando recordes na quantidade de
automóveis produzidos. Na linha de montagem o produto percorre o trajeto de uma
esteira e em cada etapa ele recebe o trabalho específico de determinados
funcionários; tal modelo é amplamente utilizado atualmente sendo responsável
pela produção em massa de diversos produtos. Outras políticas também foram
lançadas por Ford, como os bons salários pagos e a política das metas; a gestão
extremamente alienatária de Ford objetivava não só produzir trabalhadores
qualificados e treinados, mas também produzir consumidores para sua indústria.
Essas políticas deram ao indivíduo a oportunidade de crescer na empresa, mas
também intensificaram um vinculo que pode ser danoso para o sujeito; a ligação
afetiva entre o funcionário e a empresa.
Entre os outros fatores históricos que tiveram contribuições
importantes para os rumos tomados pela indústria foram as duas grandes guerras
e a crise de 29. No período pós primeira guerra mundial a economia ficou
centrada no modelo liberal do EUA; a indústria estadunidense abastecia o
mercado europeu e promovia a reconstrução do velho continente. Este modelo
tinha influência da idéia de “mão-invisível”, proposta no século XVIII por Adam
Smith; este idéia propunha que a economia era capaz de se auto-regular sem a
intervenção do estado. Porém, após a reestruturação da Europa os produtos
norte-americanos pararam de ser comprados em tão larga escala, e os estoques da
empresas estadunidenses começaram a aumentar com a superprodução; este aumento
dos produtos em relação à demanda culminou com a quebra da bolsa de valores de
New York em 1929, desencadeando a maior crise já enfrentada pelo sistema
capitalista. Os índices de desemprego cresceram, a produção diminuiu, e grande
parcela dos trabalhadores que continuaram com seus empregos foram obrigados a
aceitar redução de salário; este cenário foi decisivo na aparição dos governos
totalitários de extrema direita. Os governos totalitários apareceram como
solução para muitos países superarem suas crises, e assim figuras como Hitler e
Mussolini tiveram a oportunidade de assumir o poder com seus governos
nazi-fascistas. Já os EUA, resolveram sua crise com uma série de medidas
tomadas pelo presidente Theodore Roosevelt que ficaram conhecidas como New
Deal; as medidas consistiam principalmente na retomada de certo controle do
estado sobre a economia, sobretudo nos preços e na produção, para evitar um
novo acúmulo de estoque. Contudo, a política ofensiva dos países nazi-fascistas
acabou levando á um novo desequilíbrio da ordem mundial: a Segunda Guerra
Mundial.
Dentre as implicações da segunda guerra está a
divisão do mundo em dois grandes blocos econômicos: o bloco liderado pelos
Estados Unidos e o bloco liderado pela União Soviética. O crescimento do
socialismo apontava para certa fragilização do sistema capitalista, que ao
longo dos anos anteriores havia passado por períodos de muita turbulência. Foi
nesse contexto que surgiu no Japão o terceiro modelo de gestão; o modelo
Toyotista. O modelo toyotista foi uma forma que o Japão encontrou de se
reestruturar; o Japão ao contrário dos EUA não possuía grande mercado interno e
tinha poucos recursos naturais. O toyotismo se diferenciava do fordismo
principalmente por não haver estocagem de produto, tudo era produzido de acordo
com a demanda atual de mercado; e, portanto, o produto era finalizado exatamente
no momento da entrega; este conceito de produzir somente o necessário é chamado
de “Just in time”. Também é característica do toyotismo o multifuncionalização
dos funcionários; ao contrário do modelo fordista em que havia uma rígida
divisão de tarefas. Para conseguir se estabelecer, o toyotismo foi auxiliado
por um amplo investimento em educação feito pelo governo japonês que tornou a
mão-de-obra do Japão extremamente qualificada para atender á um dos quesitos
fundamentais do toyotismo: a qualidade de seus produtos.
Crise de identidade e suas implicações
Na atualidade as empresas estão sendo configuradas
para atender á necessidade de lançar um olhar para a interculturalidade dentro
da empresa e na sociedade em que vivemos; tal interculturalidade originou-se da
globalização. A globalização aproximou as diversas culturas do mundo, rompeu
com estruturas sociais e permitiu a um cidadão pertencer ao globo terrestre
como um todo. O capital ganhou a capacidade de ser facilmente transferido; bem
como os profissionais ganharam esta propriedade, e até mesmo as organizações
que atualmente tem a capacidade de se transferir por inteiras de uma nação para
outra.
Atualmente é possível entrar em contato facilmente
com o “diferente”, e até mesmo com o oposto da cultura local; por isso,
torna-se necessário que especialistas dêem uma atenção dentro da empresa para o
relacionamento entre diferentes funcionários, que necessariamente vêm da
inserção em uma cultura, formação moral e/ou religiosa e hábitos. Se por um
lado esta diversidade aumenta a qualidade do trabalho, por outro, se não houver
diálogo e negociação na empresa estes aspectos podem gerar desentendimento
entre os trabalhadores e exclusão. Outra implicação da interculturalidade é a
acelerada perda de identidade que o cidadão contemporâneo tem sofrido; os
jovens do final do século XX e do século XXI não têm o auxílio das estruturas
que organizavam a psique em gerações passadas, como o estado, família e a
igreja. Com isso, os indivíduos ganham uma mobilidade maior nos grupos de
referência; podendo em certo momento de sua vida pertencer a um grupo e em
outro mudar para um grupo diferente. Nesse contexto de falta de uma identidade
fixa, as organizações geralmente aparecem como entidade forte capaz de reger e
organizar a psique; o funcionário compra a meta e a identidade de sua
empresa.
O ideal imaginário das
organizações
Na atual conjuntura da sociedade as organizações
estão se estabelecendo no imaginário das pessoas como entidades grandiosas,
nobres, perfeitas e capazes de suprir a necessidade humana de completude. O
jovem contemporâneo apresenta uma preocupação grande com a perfeição e a busca
desenfreada pela verdade e algo que dê sentido a sua vida; esta é sua condição
neurótica. Este ambiente é perfeito para que a organização perversa se
estabeleça, trazendo a fantasia da organização completa e sem falhas e também
favorecendo o consumismo desenfreado, pois os indivíduos contemporâneos estão
carregados de uma plenitude insaciável, produto do não reconhecimento das
faltas reais do sujeito. O desprazer de se deparar com a incompletude seria
tamanho, que membros das organizações e de grupos sociais têm utilizado
enfáticos métodos de exclusão para atingir sua superioridade psíquica. É um
mecanismo semelhante ao método nazista para atingir sua auto-satisfação; que
consiste em subjugar os que estão fora da organização “perfeita”. Os indivíduos
que não se adéquam as normas da moda, ou que não tem um bom carro, ou um
emprego de status elevado são em geral também subjugados caracterizando a
exclusão dos “inadequados”.
Para se sentirem parte desta perfeita organização que
está presente no imaginário das pessoas, o indivíduo acaba gastando toda sua
energia com o trabalho, que assume uma posição de referência, ultrapassando muitas
vezes a família. O plano de metas contribui para dar está determinação do
trabalhador em vestir a camisa da empresa, pois à medida que o empregado recebe
promoções e premiações, ele se sente reconhecido como fazendo parte do processo
engrandecedor da empresa.
A ideologia vigente nas organizações é a da
racionalidade e cientificidade. Esta postura tem suas origens na Grécia antiga,
quando em um dado momento do desenvolvimento de sua filosofia o corpo foi
dividido em cabeça (razão), tronco e coração (sentimento, vontade) e membros
inferiores (instintos naturais). No século XVII, René Descartes contribuiu
ainda mais para essa visão de valorização da razão ao fazer a separação entre
mente e corpo. Assim, o lado místico do desenvolvimento ocidental, que antes se
fazia notar na mitologia grega, praticamente se perdeu; e o reflexo disso é que
hoje se acredita na transcendência da empresa e que todos os problemas são
possíveis de solução operacional. Assim mesmo com tanto progresso tecnológico e
cientifico; a civilização não conseguiu resolver os seus problemas; pois a
sociedade desvalorizou o equilíbrio entre as funções mentais do ser humano e
superestimou o valor da razão. A perversidade proibida na vida singular e
bloqueada pela razão se torna possível no vinculo com a organização; o perverso
considera que em nome da organização tudo se justifica e tudo existe em função
dela.
Laços
libidinais e perversão.
A sociedade vem se desenvolvendo e fortalecendo em
dois aspectos principais, se por um lado o egoísmo é cada vez mais incentivado
pelo modelo capitalista, por outro as formas de perversão e de vazão dos
instintos sexuais estão sendo cada vez mais bloqueados pela razão. O ambiente
nas grandes empresas não é diferente, totalmente doentio e recheado de falsos moralismos
que não acontecem na prática, pois as perversões têm assumido formas cada vez
mais discretas e dificilmente notáveis entre os membros de uma empresa.
Os laços libidinais que são tidos na psicanálise como
os laços que se originam dos filhos para com seus pais (consistindo para um
garoto na figura do pai, que é tomado como ideal; e na da mãe, que é tomada
como objeto de desejo), geralmente são transferidos para os chefes na empresa.
Esta condição psíquica pode gerar transtornos caso haja um abuso do poder por
parte dos chefes; o indivíduo por se sentir preso ao chefe pelos laços
libidinais e isto pode conduzir em alguns casos ao assédio sexual. Outro motivo
que potencializa as perversões dentro da organização é o temor por ficar
desempregado, situação que se constrói no imaginário das pessoas como típica de
indivíduos fracassados.
O perverso tem em si a necessidade de desqualificar e
rebaixar o outro para poder se sobressair ou manter uma alta auto-estima; estas
agressões psíquicas começam com um abuso de poder seja este poder fundamentado
no real ou no imaginário. No caso do poder real o perverso utiliza-se de sua
condição hierárquica avantajada para cometer o assédio; e no caso do poder
imaginário o perverso utiliza-se da construção psíquica de seu poderio,
baseando-se nas diferenças étnicas, nas diferenças de gênero e opções sexuais,
nas questões culturais, e nos diplomas que possui. O individuo perseguido é
acarretado de duvida do que está acontecendo, pois o ataque acontece na maioria
das vezes de forma muito discreta, com a negligência dos demais colegas que não
participam e com a negação do assédio por parte do agressor; com isso, a vítima
acaba levando para si a culpa de estar sofrendo as agressões mentais.
Movimentos de contracultura
O
fato de a civilização ter avançado muito em conhecimento, mas continuar tendo
graves problemas como a violência, fraude, estupros, fome, desigualdades, solidão,
transtornos mentais, vícios, guerras; têm levado diversas pessoas do mundo todo
a questionarem a conjuntura da sociedade. Em diversos momentos da historia
foram necessárias forças motoras instituintes para repensar a sociedade,
contudo muitas vezes essas mudanças ocorreram aos poucos. Um movimento notável
na década de 60 e 70 que objetivava uma mudança radical da sociedade foi o
movimento hippie; este movimento considerava que o governo, as indústrias, o
exército, os valores tradicionais e a moda fazem parte de uma instituição única,
que sobrevive na interligação destes diversos setores. Baseando-se no
pacifismo, os hippies apoiavam o anarquismo e os ideais de comunidades igualitárias.
Traziam do extremo oriente diversos valores religiosos e o uso da meditação
como forma de transcender a consciência para muito além do ego. As práticas
hippies mais abominadas pela sociedade tradicional são o nudismo e o uso da
maconha, que segundo os hippies era capaz de promover a libertação da mente. Além
dos hippies, podemos notar a expansão de tradições como o Zen-budismo e a busca
pelo misticismo efetuada por diversos ocidentais, como o psicólogo Carl Jung
que estudou profundamente o ocultismo em diversas culturas.