Saturday, February 1, 2014

Sobre a introversão

O que me motivou a escrever esse texto, além de minha introversão, foi a percepção de que vivemos em um mundo onde o extrovertido é muito mais valorizado, é reconhecido, tem amigos e consegue mais oportunidades. No geral, o introvertido sente um sentimento de culpa por sua introversão, ele tenta se adequar às exigências das outras pessoas, tenta se entrosar e se expor muitas vezes, mas ao sinal da primeira ameaça de punição, ele retorna para uma espécie de casulo que porventura ele possa ter criado, com um incrível sentimento de culpa.  É importante para mim, ressaltar que esse texto reflete grande parte da minha experiência pessoal, e que a intenção da minha escrita não é a de fazer uma demonstração ou manual de como superar o problema da introversão, problema este que ainda enfrento quase diariamente. O primeiro ponto que eu gostaria de tratar, é que a introversão não é algo a ser superado, ela é na verdade, um estilo psicológico, um modo de encarar e ver o mundo, e a pessoa introvertida ganha muito mais se souber utilizar este característica à seu favor, seja na interação com os amigos, na vida profissional ou na paquera. Existem pessoas que simplesmente não gostam de se expor constantemente, não irão iniciar interações em filas de bancos, nem vão fazer inúmeras participações nas aulas da faculdade. Elas têm mais interesse e capacidade em ler livros enquanto tomam um café quente em dia de chuva, assistir bons filmes, jogar xadrez com um(a) amigo(a), escrever, conversar a dois, falar menos dando mais oportunidade para a outra pessoa falar, viajar para o interior e conhecer cachoeiras. Isto não configura problema algum a princípio, não significa que a pessoa seja antissocial, nem que ela se acha superior, significa apenas que ela tem a capacidade de partir dos seus pensamentos, de seus sentimentos, de seu mundo interno para se posicionar no mundo, e não o contrário, como é o caso do extrovertido, que primeiro age, e depois reflete sobre o que ocorreu. Resumidamente, tanto a introversão como a extroversão tem suas vantagens e desvantagens, o extrovertido é alguém que vai mover as coisas e vai comunicar abertamente o seu posicionamento, já o introvertido vai reter algumas informações para depois chegar a conclusão do que é melhor a se fazer.  O ideal mesmo é que os entes humanos tivessem equilibradamente uma dose de introversão e uma dose de extroversão, mas é necessário entender que qualquer esforço obsessivo nesse sentido é prejudicial ao sujeito. Numa perspectiva rogeriana apenas a autenticidade é que pode fomentar o aprendizado necessário para tornar-se “humano”.  Quando Carl Rogers (1980) fala sobre autenticidade percebe-se como a autenticidade está para além das palavras, não se trata de seguir regras sobre o que uma pessoa autêntica deve fazer. O que posso dizer sobre autenticidade, posso dizer apenas sobre minha jornada rumo a autenticidade, e meu processo de tornar-me autêntico. É possível que o meu processo ( que está em andamento) carregue consigo leis universais, mas não me arrisco a explora-las, cabe ao leitor comparar minha situação com sua situação pessoal, e ver se partindo disso temos pontos em comum. Sobre mim, posso dizer que aceitar minha introversão tem sido como me livrar de um terrível peso sobre meus ombros, e ressalto que introversão não significa isolamento. Isolamento é patológico. Para Erickson (1976) o polo oposto do isolamento é a intimidade, e de fato, as pessoas se isolam porque temem o contato íntimo com outras pessoas, e elas podem fazer isto por vários motivos que descreverei. Esse é na verdade um dos maiores riscos da introversão, construir um casulo formado por regras muito rígidas, tão rígidas, que qualquer aproximação de outra pessoa pareça um ataque, pois já que cada pessoa tem seus próprios valores, é inevitável que questionemos os valores uns dos outros. Para uma boa convivência com os demais considero importante que cada pessoa conheça os seus valores pessoais, conheça quais são estas regras que regulam seu comportamento, porque o conhecimento desses valores, o popularmente chamado auto-conhecimento, é que permite que nos tornemos íntimos de outras pessoas. Conhecer a si mesmo permite ser congruente, mostrar quais são seus limites para o outro, superar seus limites e respeitar os limites das outras pessoas.  E finalmente, quando digo aceitar a introversão, me refiro a liberdade de escolher o que quero fazer, de manejar as cobranças sociais, de modo que se eu não quiser estar na companhia de muita gente naquele momento, posso fazer isto.  Apesar de estar distante disto, acredito na possibilidade de um ser humano gostar de sua própria companhia a tal ponto que suponha que os outros também irão gostar de tê-o como companhia.

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