Friday, July 24, 2015

Relacionamento, Poder e Igualdade

Muitas pessoas falam em mudar o mundo, mas como proceder para isso? O que quer que se queira mudar na qualidade de vida neste planeta, é no que está em seu alcance mais imediato que o indivíduo pode atuar. E o que está à seu alcance são quatro coisas que não se separam: Sua mente, seu corpo, seus relacionamentos e seu ambiente. Nesse texto, falarei mais a respeito dos relacionamentos, por ser, por si só, um assunto muito vasto. Isto não significa que cuidar do corpo, do ambiente e da mente não tenha importância, mas sim que esses quatro fatores trabalham juntos. 
Sabemos que no mundo em que vivemos os relacionamentos são repletos de uma série de mazelas, entre as quais, posso citar, exploração, disputa de poder, inveja, ciúmes, autoritarismo e desigualdade. Estas últimas palavras: "autoritarismo e desigualdade" são o X da questão.
Os seres humanos ao se relacionar uns com os outros estão com frequência tentando se colocar como superiores, impondo sua vontade, fechados para a opinião do outro, e tentando controlar a relação. E tudo isso é mascarado através dos valores e crenças, que distorcem a realidade a tal ponto de a pessoa considerar que uma relação desigual é justa. Vamos examinar mais de perto onde começa esta relação desigual... Sua origem é o autoritarismo. e o autoritarismo começa na família, a principal célula da sociedade. Gostaria de não precisar utilizar o termo da moda: patriarcal, mas esse uso se faz necessário. A família é patriarcal, e isso por si só é gerador de desigualdade. As crianças são educadas para serem como os país, há pouco espaço para elas serem elas mesmas. A curiosidade inocente e alienável das crianças ao se encontrar com uma mistura de autoritarismo e amor, logo se torna condicionamento. Os pais se utilizam dessa poderosa combinação: Castigo e Afeto, eis o método utilizado para despersonalizar as crianças! 
A relação conjugal, por sua vez, também não é menos desigual. As coisas tem mudado, é verdade. A mulher  tem se emancipado, mas a herança patriarcal ainda é grande. O homem, educado para ser o rei, não entende porque a mulher não é mais submissa. E a mulher certamente se vinga desse autoritarismo, através de suas armas mais espinhentas: palavras e frieza. E o que ambos tem em comum? O fato de querer o outro a sua maneira. O outro é percebido como apenas um detalhe. Relaciona-se com a imagem que se criou da pessoa, e não com a pessoa real. No começo essa imagem é idealizada, no período em que os amantes estão sobre efeito da chamada paixão, momento em que projetamos aquilo que nos falta no ser amado. Depois, começa a tragédia... Então, neste ponto, há a percepção de que há algo muito errado com aquela imagem criada?... Nem sempre, o mais comum é ocorrer de a pessoa dizer que ha algo muito errado com o cônjuge real.
Na sexualidade, é onde talvez esse fatos se manifestem com maior intensidade. Há uma objetificação do outro, e uma repercussão clara dessa disputa de poder se faz notar. Sexo é um ato político. Relacionamento é um ato político. Estas são as mais simples formas de revolução. Não é preciso necessariamente pertencer a um partido, não é preciso seguir um líder, não é preciso necessariamente ir às ruas e reunir as massas. Não estou desmerecendo essas formas de protesto, apenas estou afirmando que elas não são as únicas. 
E estou afirmando também que seguir um líder político envolve o risco de cair no velho autoritarismo. A psicologia das massas e a história nos mostram o poder que um líder autoritário tem de convencer pessoas comuns como eu e você à praticar barbáries. Se alguém tem dúvidas disso, confira o polêmico experimento da Psicologia Social de Stanley Milgran (1963): https://www.youtube.com/watch?v=VT3wKbBNo64
Nesse ponto, eu acho importante trazer a diferença entre o ato de liderar e o autoritarismo. Não há mal nenhum em liderar, o problema é quando as lideranças se cristalizam. Por exemplo, quando eu estou ensinando alguém a tocar violão estou liderando a pessoa para que ela aprenda a tocar, mas isso não faz de mim o líder absoluto dela. Isto é pretensão dos sacerdotes. Pretensão letal para a autonomia das pessoas, diga-se de passagem. Portanto, é natural que cada individuo tenha um gosto diferente, e que cada individuo tenha aptidão para algo diferente, o perigo esta quando em uma relação à vontade de um se imponha sobre a do outro e essa relação de poder se cristalize. O mesmo vale para sexualidade, por exemplo. Cada um tem sua posição sexual predileta, o problema é quando num relacionamento amoroso determinada prática que é mais vantajosa para um se cristalize. 
A esta altura do texto, fica perceptível o tamanho do desafio que temos aqui exposto para se chegar até aos relacionamentos de igualdade. Trata-se de encontrar em cada relação o equilíbrio entre as forças que estão em jogo, pretendendo-se uma distribuição igualitária do poder. Isso envolve não aceitar a autoridade, e cuidar também para não ser uma autoridade. Nessa explanação propositalmente não entrei no mérito da desigualdade social, pois acredito firmemente que uma mudança nos relacionamentos interpessoais é uma fortíssima alavanca capaz de engendrar a mudança social mais ampla. Por fim, meus agradecimentos ao livro "Utopia e Paixão" ( Roberto Freire e Fausto Brito), de onde foram retiradas parte dessas idéias.

6 comments:

  1. Sobre o autoritarismo das massas, só assistir Die Weller (A onda) já diz muito!

    A leitura de A cabana também tem muito a ver.

    O que não entendi do seu ponto foi somente o seguinte: Vc acredita que existe um equilíbrio de forças pleno possível em relacionamentos?

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    1. Die Weller, dentro da categoria "filmes fodões", este é um dos mais fodas.

      Se eu disser que acredito piamente, estarei mentindo. Mas trata-se de como se vê o ser humano. Daquele jeito de Freud em que o homem é um fervilheiro de impulsos recalcados que são domesticados pela cultura, ou daquela maneira à la Rogers, mais otimista, que acredita que quando o homem é livre pra tomar suas decisões num ambiente seguro ele caminha de boas para a integração.

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  2. Mas aí é o equilíbrio do "eu", da personalidade, não dos relacionamentos...

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    1. Você está certo, em termos teóricos isso seria "eu", "personalidade".
      Mas o que é personalidade senão relacionamento consigo mesmo? Será que uma coisa é separada da outra?
      A questão pode ser: se alguém conseguisse equilibrar e integrar a vasta quantidade de forças que o governam por dentro, como este alguém procederia em relação as forças que atuam em um relacionamento?

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  3. Hmm, faz sentido... Mas será que realmente é necessário um "eu" mais equilibrado para um equilíbrio nos relacionamentos ser possível? A princípio parece plausível mas a evidência aqui é inexistente né haha

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  4. haha Boa pergunta! Com certeza a evidência é inexistente, só palpites.
    Aliás, achei esse meu post muito "politicamente correto" kkk
    Mas agora ta feito, fazer o quê. xD

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