Friday, November 13, 2015

Suicídio: Um lapso na teoria da seleção natural?

Nesse texto irei trazer a tona um questionamento: É possível falar sobre suicídio a partir do ponto de vista biologicista? O suicídio parece contrariar a ideia de que todo organismo busca se manter vivo, e é exatamente por isso que ele pode ser um lapso nos fundamentos de nossa Biologia.
   
A parte da ciência que cuida da saúde humana, desde suas origens, ou pelo menos há um bom tempo é fundamentada na biologia, no nosso corpo palpável e material. E nossa biologia é fundamentada por uma importante teoria inaugurada por Charles Darwin em 1859, a teoria Evolucionista. A teoria evolucionista por sua vez é fundamentada pela Seleção Natural. Acredito que o leitor já esteja familiarizado com a Seleção Natural, mas irei fazer uma breve descrição de seu funcionamento. A Seleção Natural é a sobrevivência do mais forte, ou seja, a sobrevivência daquele indivíduo que está mais adaptado ao ambiente. No decorrer da historia terrestre mutações na reprodução do DNA foram e são comuns em todas as espécies, sendo que a maior parte dessas mutações é inútil, elas acabam não se repetindo. Entretanto algumas mutações se adaptam melhor ao ambiente do que o indivíduo original da espécie, e assim os indivíduos com a mutação tendem a sobreviver mais do que o indivíduo original da espécie. Com o passar de muitos anos a tendência é que os indivíduos com a mutação (traço) que se adaptou bem ao ambiente se tornem a maioria, e assim, dizemos que ocorreu a evolução da espécie. Portanto a Seleção Natural é o fato de que o ambiente selecionou os mais adaptados. Para ilustrar isso, um exemplo famoso é o surgimento do Urso Polar. Há indícios de que numa certa feita um urso pardo nasceu com a seguinte característica anômala: pelos brancos. Por um acaso significativo esse urso habitava o ártico, e por ter o pelo branco, conseguia se camuflar melhor na neve, surpreendendo suas presas no gelo e obtendo ampla vantagem sobre os outros ursos. Esse urso sobreviveu, cresceu e se reproduziu passando seus genes pra uma série de outros ursos que continuaram obtendo vantagem sobre os ursos pardos, e acabaram por se tornar a maioria no ártico, já que estão mais adaptados ao ambiente.     

Dentre as correntes da Psicologia, existe uma que se alinhou mais com a ideia da seleção natural, e com a Biologia: o Behaviorismo. No Behaviorismo o comportamento dos seres humanos e também das outras espécies de animais é analisado de forma semelhante à seleção natural, Os comportamentos que se adaptam mais ao ambiente são selecionados durante a vida de um indivíduo. Os comportamentos que resultam em comida, água, sexo e segurança são reforçados e tendem a se repetir. É a teoria do reforço. É assim que se faz por exemplo o adestramento de animais: cada comportamento adequado do cão é reforçado com um petisco. Como explicar então o fato de que indivíduos apresentem comportamentos completamente inadaptados à sociedade e nocivos para si mesmos? Eis a questão, quando levamos em consideração que somos seres que vivem numa sociedade a coisa se torna bem mais complexa. No entanto, ainda é possível responder essa pergunta através da teoria do reforço que estávamos falando. Os comportamentos auto-nocivos se explicam pelo fato de que na sociedade humana o ambiente se modifica rápido demais, logo, o que chamamos de comportamento nocivo foi um dia útil para nós mesmos ou para nossos antepassados da antiguidade ou da era primitiva. Por exemplo, o instinto de se agrupar e odiar os inimigos foi muito útil numa época da humanidade que os recursos eram limitados, e os seres humanos precisavam competir, no entanto tal comportamento é hoje a causa das guerras e de grande parte das mazelas da humanidade. O mundo mudou, o ambiente mudou, mas ainda estamos condicionados pela nossa experiência pessoal ou pela experiência da espécie a agir do modo antigo. Ok, a teoria parece totalmente coesa até ai, até que encontramos um lapso, algo que pra mim ainda está inexplicado: O Suicídio. O comportamento de se suicidar é contrário a ideia de sobreviver, procriar e se adaptar. Os únicos animais que se suicidam são os sociais! Sim, apesar de que não dá pra dizer exatamente que um chimpanzé se matou, no sentido literal, existem casos de chimpanzés que após a morte de um ente da "família" se tornaram deprimidos e ficaram displicentes com a alimentação e com os perigos até chegar ao ponto de morrer. Sendo assim me parece que o suicídio é algo do campo do social, e da dor de ter noção da própria existência ( algo que só está presente nos mamíferos superiores creio eu). Talvez não haja como explicar o suicídio do ponto de vista biológico: é uma morte antecipada. Se o leitor tiver uma opinião contrária ou uma explicação para isso, por favor, deixe um comentário, quero saber o que você pensa sobre o assunto. 

8 comments:

  1. Resposta fácil: Behaviorismo é teoria ultrapassada e comprovadamente nonsense! HSUAHUSHAUHSUA

    Do ponto de vista da psicanálise (Qualquer vertente) há explicações para o suicídio. Até a ideia de individuação que vc estava falando alguns posts atrás pode levar ao suicídio... Talvez para obter mais respostas sobre esse assunto, se faria necessário um estudo de locais onde o suicídio foi um fator onipresente em épocas passadas: Japão, China e Coréia. Nestes locais, a "Perda da Honra" e a "Humilhação" muitas vezes levavam os seres humanos a se suicidarem. O suicídio muitas vezes é baseado em ideias religiosas e sociais, ao meu ver...

    Mas são só ideias dispersas aí em cima, a real é que nunca tinha pensado nisso hehe pensarei mais sobre o assunto.

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    1. kkkkkk Boa a resposta fácil. Minha ideia foi exatamente dar uma cutucada nas teorias psicológicas biologiscistas. Só que não sei o suficiente sobre o assunto, talvez essas teorias estejam se aprimorando.

      Sim sim, suicídio é da relação do homem /sociedade ; homem/Universo, homem / homem, etc. O colapso subjetivo ou sensação de fim de mundo, ou seja, sensação de que algo central da existência subjetiva tenha sido em vão (como um grande amor, nacionalismo, crença, os valores de uma vida inteira, etc), parece acompanhar os casos de suicídio, como nos casos que você citou do Japão, China, Coreia .

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  2. Assumindo como verdade essa sua explicação sucinta do colapso subjetivo, isso inclusive nos permite delinear algumas diferenças culturais interessantes entre os povos ocidentais e orientais: aqui os suicídios são mais comuns em decorrência de falha de casos amorosos ou de um sentimento de não pertencer a sociedade (Não sei bem como explicar esse último, nosso amigo zebs me vem a cabeça), enquanto no extremo oriente, onde os suicídios eram bem mais frequentes, eles eram em decorrência do sentimento de falha homem/homem, a falha consigo mesmo ou com os valores de um código comum...

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    1. Não vejo o behaviorismo como uma abordagem ultrapassada, já que o método teve vários experimentos com grande relevância para os estudos no segmento comportamental. No caso do suicídio presenciamos tal comportamento em células e é chamado de apoptose que grotescamente podemos definir como "suicídio célular". Mas no caso do suicídio temos todas as células "programadas" para autodestruição. O que nos faz supor que um indivíduo que não suporta as pressões sociais imputadas a ele acaba sucumbindo por alguma razão ainda desconhecida, isso acaba nos levando para a seleção natural, pois por alguma razão esses indivíduos sucumbem as pressões, ativando um mecanismo de destruição em massa. Esses indivíduos deixam de ser importantes para a evolução humana por não serem capazes de enfrentar os "intempéries" sociais, sendo assim descartados pelo processo evolutivo.

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    2. Uau, essa é pancada de escutar. Mesmo que comprove algum dia, não é fácil considerar a hipótese como um mecanismo de defesa do grande grupo, como a natureza do indivíduo dizendo "é... você não serve, próximo".

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  4. Talvez haja algum aspecto mais determinista por tras. A selecao natural sob a perspectiva do cosmos pode ser implacavel. O suicidio pode ser uma mera ferramenta da existencia para eliminar aqueles que nao se adaptaram ao meio. Esta abordagem pode até parecer indiferente e fantasiosa, assim como aqueles contos de terror do HP Lovecraft, mas existe uma possibilidade, em termos filosóficos, de que nada existe ou foi criado para proporfionar amparo. Talvez esta seja a regra da natureza: seja forte, seja apto, predomine...algo irá acontecer la na frente

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