Sunday, July 12, 2015

O "Livre arbítrio" - Criadores de circunstâncias ou produtos das circunstâncias?

         Há muito tempo que pondero sobre as falácias e dilemas que envolvem teorias que citam o assunto do "Livre arbítrio". Resumidamente e simplificadamente, o livre arbítrio seria a crença de que os seres humanos tem total controle sobre suas ações: a chamada "escolha". Mas há muitos dilemas envolvendo teorias que apoiam esta crença. O primeiro deles é que, empiricamente, se percebe que o ambiente afeta as decisões tomadas pelas pessoas. Pessoas pobres roubam mais, pessoas depressivas e ansiosas tem mais vícios em drogas, pessoas tem reações extremas depois de sofrerem certos "traumas psicológicos". Ou seja, acreditar num livre arbítrio pleno seria ignorar toda a prova empírica observável a qualquer um envolvido na sociedade. Experimentos realizados por nazistas e realizados espontaneamente em presídios também demonstram o quanto o poder de escolha é limitado às experiências e aos ambientes aos quais os seres humanos em questão foram submetidos.

         No entanto, a crença de que as escolhas são totalmente induzidas pelo ambiente ao qual o indivíduo é submetido também encontra diversos problemas. Filósofos existencialistas e psicólogos contemporâneos, como Sartre e Viktor Frankl já perceberam que existe muito mais na escolha realizada por um indivíduo do que meramente o resultado de certas variáveis. Por que determinados indivíduos no campo de concentração de Auschwitz continuaram de cabeça em pé, tentando encontrar um sentido para sua vida, ao invés de desistir, como outros fizeram? Por que gêmeos idênticos, com experiências muito semelhantes de vida, podem fazer escolhas tão distintas? Existe muito debate e nenhuma conclusão acerca desse tema. No entanto, para mim é claro que existem dois "espaços psicológicos" que nos ajudariam a entender melhor esta questão e, talvez, encontrar uma resposta intermediária.

Podemos definir o microespaço como o espaço onde as coisas realmente acontecem: seria como a física quântica. Seria o espaço onde realmente o ambiente e experiências tem grande influência em nossas decisões, e onde outras variáveis indecifráveis até este momento influenciam nas tomadas de decisões. Este espaço é incompreensível em sua totalidade, e além de utilizar evidência empírica como provas estatísticas, ainda não podemos levar seus dados muito a sério.

Já o macroespaço seria como a física newtoniana: ela não é uma definição da realidade; antes, é uma abstração imensa dos fatos, mas funciona para explicar grande parte dos fenômenos materiais matematicamente. O macroespaço seria a tomada de decisão feita pela pessoa, sem levar em consideração fatos anteriores que ela possa ter experimentado que a levaram a escolher por uma ou outra decisão. Seria o espaço da definição do "Eu", e da tomada de responsabilidade. Quem fez essa escolha fui eu, e eu tenho que tomar responsabilidade por isso, arcar com as consequências dessa decisão. Nesse espaço, o ser humano é, sim, criador do seu destino, e o livre arbítrio existe.

E de que serve isso? Todas as crenças religiosas que conheço acreditam em destino, de uma forma ou de outra. Cristianismo e Islamismo nem sempre pregam a predestinação (Apenas algumas linhas de ambas as religiões), mas a mera crença de um Deus onisciente e onipresente pressupõe a crença de um destino pré-fixado. Crenças de origem oriental costumam utilizar valores semelhantes ao Karma ou ao Tao em quase todas as suas formas. O que me diz uma coisa: a humanidade sempre acreditou, de uma forma ou de outra, que suas escolhas não importam. Que existe algo superior que já definiu como as coisas acontecerão, que somos impotentes para moldar nosso destino. De certa forma, linhas behavioristas da psicologia são uma evolução desses pensamentos religiosos para dentro do campo científico.

No entanto, apesar de ter sido uma constante no pensamento religioso e bastante predominante no pensamento científico a impotência do ser humano enquanto criador de seu destino e de suas decisões, sempre existiram pessoas, pensadores, poetas, cientistas, teólogos, em todas as épocas, que acreditaram que o ser humano é, sim, capaz de criar suas decisões. De moldar seu destino. De não ser um produto ou uma criatura das circunstâncias, e sim de ser o criador das circunstâncias. E o mais interessante: este tipo de pensamento esteve, por muitas vezes, inserido na ideologia de pessoas de "sucesso" (Escreverei alguns pensamentos sobre a definição de sucesso num post posterior. Por enquanto, vamos assumir que ser alguém de sucesso é ser alguém que consegue realizar objetivos colocados para si próprio), como Thomas Edison, Leonardo da Vinci, os Médici, Hitler, Gandhi, entre outros. Percebam que não estou colocando exemplos necessariamente de pessoas que fizeram coisas boas, mas que obtiveram sucesso em realizar o que tinham como objetivo.

Portanto, talvez acreditar, dentro do macroespaço psicológico, que sou capaz de tomar minhas próprias decisões e, assim, moldar meu destino, apesar das circunstâncias, pode ser um ingrediente fundamental para completar qualquer objetivo, por mais que, internamente, no microespaço, saibamos que nosso "livre arbítrio" é bastante limitado. Digo TALVEZ, por ser uma reflexão. Digam o que acham =)

8 comments:

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  3. Henry, achei seu texto muito complexo.
    Desculpa a ignorância, mas eu fui do nada ao lugar nenhum tentando compreender seu texto. Vou fazer um breve comentário:

    O livre arbítrio é a capacidade de escolher todas as opções morais que uma situação oferece. Agostinho afirmou que o pecado original nos tirou o livre arbítrio neste sentido. Não temos capacidade natural de discernir e escolher os caminhos da verdade, porque não temos inclinação natural em direção a verdade; se existe algo como o "livre arbítrio", ele serviria apenas para nos condenar.
    Vale a pena notar que vontade é uma abstração. Minha vontade não é parte de mim no sentido de que eu decida mover-me ou ficar parado, tal como minhas mãos ou meus pés; é precisamente a escolha de agir e, em seguida, de entrar em ação. A vontade não pode colocar a si mesma em liberdade. Não precisamos entrar em qualquer inquirição metafísica a fim de determinar por meio de quais processos mentais foi formada essa ou aquela volição; basta-nos saber que tal volição foi formada. Se um homem fizer aquilo que não tencionava fazer, naturalmente ele agiu involuntariamente; porém, quando fica comprovada a intenção de perpetrar uma ação qualquer, lendo o sujeito pleno conhecimento da criminalidade dessa ação, então nenhuma sutileza metafísica será capaz de isentá-lo de culpa. Segundo o juízo humano comum, tal homem será considerado responsável pelo erro praticado.

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  4. Cara, fui do nada a lugar nenhum nesse seu comentário! kkkkkkkkkk graças a deus achei o texto completo original na internet e deu pra entender melhor.

    Basicamente o que seu comentário diz é que não existe livre arbítrio e, deixado a sua própria escolha, o homem sempre escolherá pelo caminho errado, mal ou ruim.

    Que é precisamente a posição que eu disse que todas as religiões tomam! XD

    A real é que eu só trouxe a questão do livre arbítrio para entrar na discussão do acreditar na capacidade de moldar seu próprio destino ou não. Para além do "certo" e "errado" e para além do que acontecerá depois dessa vida: apenas levando em consideração o que se consegue realizar nessa vida, se se toma uma atitude baseada numa ideologia de "Sou capaz de moldar meu destino", independentemente de você ser capaz, realmente. É o que todas as pessoas de sucesso tem em comum: acreditar que podem, sim, a partir de suas escolhas, atingir seus objetivos.

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    1. Não vou entrar em discussão, Dude.
      Primeiro por que, e falo isso com muita humildade,
      mão tenho conhecimento necessário - ou seu texto é muito complexo pra um mero leitor curioso como eu - para debater esse assunto.
      Abs

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  5. O que achei interessante desse seu texto é que ele chega à algum lugar, quando a maioria debates sobre esse tema não chegam a lugar nenhum.

    Hoje mesmo eu estava pensando sobre isso! Você tem razão quando diz q os sistemas religiosos tem por fundamento a existência de um destino, ou controle divino. Acrescento ainda q do lado oposto disso está o homem moderno, que acredita no Eu acima de todas as coisas. Me corrija se eu estiver errado mas parece q o lema do pensamento materialista racional é: " Eu quero, eu posso".
    Ninguém disse que seria fácil ser um homem de sucesso! Se passar por cima dos processos inconscientes ele pode cair em adoecimento mental, mas ao mesmo tempo como vc bem colocou é fundamental que o homem de sucesso tenha a consciência "centrada" e capaz de realizar escolhas e atingir objetivos. q desafio!

    Agora mais interessante do q tudo isso foi vc ter a humildade de dizer TALVEZ :O Aliás isso vale pro meu comentário tb, ele é apenas um TALVEZ.

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    1. kkkkkkkkkkkkk curti essa da humildade suahushauhsuahsa

      Sim, acredito que esse seja o lema do materialismo racional (Apesar dele não ser muito difundido no Brasil - Inclusive recomendo ouvir o áudiobook "The strangest secret", com tradução em português. É quase como a bíblia do pensamento materialista norte-americano, voltado para o sucesso) e é justamente essa linha de pensamento que norteia, geralmente, as pessoas de sucesso do nosso século - que é um século de ideologias voltadas para o materialismo, se formos pensar bem.

      O que você quis dizer com consciência centrada? Tipo focada no objetivo auto-proposto?

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    2. Na hora q escrevi nem sei o q queria dizer. kkk Mas já q vc perguntou, refleti... Consciência centrada pode ser uma consciência com alta capacidade de retornar para o ponto de equilíbrio, ou seja, mesmo com certas oscilações do estado de mente consegue ter um modo de funcionar predominante e que consegue dar conta do que surge no ambiente, processando a maior parte das situações q aparecem. Em nossa sociedade isso é o mais próximo q podemos ter da pessoa dita " normal e saudável".

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